Foto: Matheus Manfredini/Mongabay

Situações vivenciadas diante do isolamento territorial (lockdown) devido à pandemia do novo coronavírus na Terra Indígena Andirá-Mará ativou medos históricos entre os indígenas Sataré-Mawé, no Amazonas. A conclusão faz parte da pesquisa, ‘O paradoxo do isolamento na pandemia segundo o povo indígena Sateré-Mawé/AM’, e que foi publicada esta semana na revista científica Psicologia e Sociedade (Qualis A1).

O artigo teve como meta analisar e aprofundar interpretações acerca da relação entre desigualdade e pandemia com foco no isolamento do povo enquanto questão emblemática aos Sateré-Mawé. Inferências descritas tiveram base em documentos públicos e etnografia continuada. O estudo é assinado por Bader Sawaia, da Pontifícia Universidade Católica, Renan Albuquerque, da Universidade Federal do Amazonas e Flávia Busarello (PUC).

Esse é o primeiro estudo a avaliar a percepção do lockdown pela pandemia de coronavírus em aldeias indígenas. Uma das principais conclusões é de que situados a partir de violências do passado, os indígenas também fomentaram sabedorias salvadoras de vida enquanto estiveram em lockdown total, o que ajudou a evitar a propagação entre os indígenas Sataré-Mawé.

“O trabalho de proteção contra o SARS-CoV-2 por parte dos Sateré-Mawé/AM foi exemplar, mas não por causa do Estado. A efetividade se deu em razão de estratégias das lideranças indígenas”, explicou Renan Albuquerque, co-autor do paper. “A sabedoria dos povos das terras baixas da América do Sul está em risco há pelo menos 520 anos por causa de ataques de organizações sociais totalitárias. Ao estudar o modelo de lockdown, verificamos todo um contexto de táticas de segurança contra o vírus por parte dessa sociedade”, sublinhou.

Segundo informações do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé – CGTSM, em 2014 a TI Andirá-Marau tinha em torno de 100 aldeias, situadas às margens dos rios Uaicurapá, Andirá, Urupadi, Marau, Manjuru e Miriti, e de seus igarapés. Nos últimos 30 anos a população da TI Andirá-Marau triplicou em número de habitantes.

Covid-19 e a barreira sanitária Sataré-Mawé

Boa parte do território Sateré-Mawé fica entre os municípios de Maués e Autazes, próximo a fronteira do Amazonas com o Pará. De acordo com dados das secretarias locais de saúde, o registro de coronavírus entre os indígenas atendidos em unidades instaladas nos municípios é inferior ao número de atendidos que moram na cidade.

Apesar da ausência de um número adequado da situação do coronavírus nas aldeias Sateré-Mawé, de acordo com dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), não há confirmações de mortes ou infectados entre os Sataré-Mawé até o momento. Clique aqui para ver o painel Emergência Indígena com dados da Covid-19.

O artigo O paradoxo do isolamento na pandemia segundo o povo indígena Sateré-Mawé/AM é fruto do projeto “Expressões da Pandemia”, realizado pela Faculdade de Informação e Comunicação da Ufam em parceria com a Coordenação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC-SP. Bader Sawaia (no eixo São Paulo) e Renan Albuquerque (no eixo Manaus) coordenam o projeto.

Clique aqui e confira o estudo na íntegra em inglês.