Foto: Neil Palmer Photography

Um grande banco de dados criado em conjunto com as comunidades: essa é a proposta do Biobanco da Amazônia ou Amazon Biobank.  O projeto encabeçado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) consiste na consolidação de um biorrepositório de armazenamento de amostras biológicas para uso de pesquisas. E que ainda, pode gerar renda para ribeirinhos e povos tradicionais, além da preservação da floresta.

O biobanco se assemelha a uma grande biblioteca digital com dados genéticos das espécies amazônicas. Como cada amostra biológica carrega um material genético bastante complexo, é como se elas fossem um livro, contendo dados. Uma folha de uma árvore, por exemplo, pode conter uma quantidade gigantesca de informação.

Se para uma pessoa da comunidade ela é boa para fazer chá e curar dor-de-cabeça, numa análise mais minuciosa no microscópio, por exemplo, os cientistas poderão detectar muito mais potencialidades. Mas para isso, é necessário que esses dados estejam compilados cientificamente e disponíveis para consulta.

Ao acessar a “biblioteca”, um cientista pode usar dois “livros” diferentes para pesquisar e criar um remédio superpotente para dor-de-cabeça. E esse exemplo vale para diversos outros materiais, como cascas de árvores, peles de animais ou águas dos rios. É aí que entra a preservação da floresta: ao invés de derrubar árvores ou utilizar animais para testes, basta acessar os dados disponíveis no biobanco. Um exemplo disso é o couro do pirarucu. , que passou a ser utilizado para desenvolver modelos mais eficientes de coletes à prova de bala. “Em vez de matar um monte de pirarucu para fazer um monte de colete, basta pegar uma amostra, sequenciar o DNA, guardar os dados e criar uma pele de pirarucu artificial e em escala maior”, informa um dos coordenadores da pesquisa do Departamento de Engenharia da Computação da Escola Politécnica da USP, Marcos Simplicio, que também explica como será feito o armazenamento de dados genômicos na plataforma.

“As pessoas da região terão acesso a máquinas digitais, que serão doadas, juntamente com treinamento, para o uso das mesmas”.

E quanto à garantia de renda a essas pessoas, um registro dessas informações ficará gravada no Biobanco de tal forma que os dados sejam associados ao nome da pessoa que fez a introdução no Biobanco, garantindo a propriedade intelectual, fazendo com que empresas que usem os dados paguem a quem os forneceu. “Então, a pessoa que contribui com informações, teria uma ‘moeda virtual’ que agrega ao banco e que agrega a ela novamente, sendo um investimento. A engenharia em si, entra exatamente na construção desse sistema por meio de moedas virtuais e da garantia dos dados armazenados”.

A demanda do projeto surgiu no início de 2020, em uma reunião dos coordenadores do projeto Amazônia 4.0, com a Poli, conta o professor Simplício. A ideia para construção de um Biobanco dessa magnitude é criar uma terceira via de exploração econômica da floresta, de forma tecnológica e sustentável, para extrair informações sobre a biodiversidade da região de modo a transformar toda essa riqueza em um instrumento de valor para comunidades ribeirinhas e povos tradicionais. O projeto é financiado com dinheiro de ONGs e instituições de pesquisa.

Eles poderão utilizar esse Biobanco, em específico, para armazenamento de dados genéticos da floresta, das suas plantas e conhecimentos tradicionais das comunidades. A iniciativa é um ponto positivo que vai na contramão das formas de exploração da região que promovem a devastação tanto da floresta como de sua população.

Fonte: Ecoa