Em nota publicada nesse domingo, 8 de junho, pela Univaja – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, lideranças da região que abriga a maior concentração de indígenas em isolamento voluntário do mundo alertam para a preocupante situação em relação a contaminação por coronavírus nas aldeias.
No último dia 04 de junho o Ministério da Saúde emitiu uma nota confirmando casos positivos de COVID-19 em quatro profissionais não-indígena da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) na aldeia São Luis, localizadas na região do médio curso do rio Javari, que foram removidos no dia seguinte e substituído por uma equipe de Resposta Rápida da SESAI. No dia 06 de junho o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Vale do Javari informou que existem três indígenas confirmados para a COVID-19. As lideranças afiram que ao menos 15 pessoas e cinco famílias na aldeia apresentam sintomatologia relacionada ao vírus.
Em nota encaminhada à 6ª Câmara da PGR (Procuradoria Geral da República) no dia 05 de junho, o analista pericial em antropologia do Ministério Público Federal, Walter Coutinho Jr., afirma que são fortes as evidências de que a doença possa ser (ou já tenha sido) introduzida entre os povos indígenas do DSEI Vale do Javari – assim como ocorreu, de fato, no DSEI Alto Rio Solimões – pelos profissionais de saúde e/ou funcionários do próprio Distrito Sanitário. Wagner alerta ainda que possa haver omissão por parte das autoridades sanitárias em relação ao número de contaminados.
Segundo a nota da Univaja são 244 pessoas na aldeia São Luís, onde foram confirmados os casos, e apenas 60 testes, que serão distribuídos também para outras aldeias. As lideranças temem que já haja contaminados também nas aldeias Irari, Lago do Tambaqui, Lago Grande, São Luis, Flores, Fruta-Pão e Lar Feliz e lembram que uma criança Korubo, integrante de um povo indígena de recente contato, foi detectada com coronavírus após viagem à Manaus.
A Terra Indígena Vale do Javari está localizada no estado do Amazonas, fronteira com Peru e Colômbia, em uma área onde praticamente não existe estrutura hospitalar para casos graves de doenças. As lideranças indígenas exigem no documento publicado hoje a instalação de um hospital de campanha em Atalaia do Norte-AM, barreiras sanitárias nos pontos de acesso às aldeias; estrutura para pronto atendimento caso haja crises como ambulanchas, helicópteros e aviões e ainda testes rápidos para atender toda a comunidade local.