Kuarup realizado na Aldeia Ipatse, da etnia Kuikuro, no Parque Indígena do Xingu (MT). Foto: Janine Moraes

O Karup é uma das principais cerimônias dos povos que vivem no Alto Xingu. É realizada uma vez por ano, normalmente de julho a setembro, para homenagear as lideranças mortas no último ano.

O ritual é uma tradição do Parque Indígena do Xingu e pela primeira vez será cancelado. A decisão é histórica e foi tomada por caciques dos povos que participam do Kuarup devido ao avanço do coronavírus na reserva indígena. No último fim de semana, o cacique Vanité Kalapalo e seu Yarurú, da aldeia Sapezal, foram internados no Hospital Regional de Água Boa (MT), a 736 Km de Cuiabá, com sintomas agudos da Covid-19. Outras pessoas da aldeia Sapezal, uma das mais próximas da cidade de Querência (MT), também fizeram testes com suspeita da doença.

Até o momento dois indígenas do povo Kalapalo que foram infectados pelo coronavírus já estão recuperados. Como forma de prevenção, organizações indigenistas, universidades e as próprias organizações indígenas estão se articulando para envio de testes, alimento, materiais de higiene e para a disseminação de informações sobre a pandemia e métodos de prevenção. Também está sendo criada uma casa de recuperação para que aqueles que tenham sintomas possam ficar em quarentena.

O modo de vida tradicional, as casas e vida coletiva dos povos indígenas são alguns dos fatores que os deixam em situação de maior vulnerabilidade em casos de epidemias como a do covid-19. Em todo o Brasil já são 269 indígenas vítimas do vírus e mais de 3 mil infectados em 98 povos. Só o povo Kokama já contabiliza 56 mortes.

Para Douglas Rodrigues, infectologista que trabalha há mais de 40 anos com os povos do Xingu, o cenário é extremamente preocupante. “Se a taxa de transmissão do vírus seguir em alta como aconteceu nas aldeias da Amazônia, num pior cenário teremos 2.000 infectados e poderemos chegar a cem óbitos”.
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As orientações dos caciques da região são de isolamento. Não é indicado que os indígenas saiam de suas aldeias e nem vão às cidades. Como medida extrema, na segunda as lideranças fecharam de vez a estrada próxima à aldeia que vai até a cidade. Quanto ao Kuarup, algumas aldeias cancelaram, enquanto outras os postergaram para 2021, quando deve haver dois períodos de celebração num mesmo ano.