Terminal fluvial para embarque e desembarque de passageiros de Jutaí (AM). Foto: Felipe Beltrame / Brigada Amazônia

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que a região Norte lidera casos de mortalidade e incidência do novo coronavírus no país. Das vinte cidades com maior mortalidade, 10 estão no Amazonas e só quatro fora da região Norte. O levantamento tem por base números coletados até a última segunda (8), e leva em conta as 20 cidades mais afetadas pelo coronavírus no país.

Manacapuru (AM) ocupa a primeira posição com 110 óbitos por 100 mil habitantes, conforme o levantamento do MS. O município que fica a 100 quilômetros de Manaus, com boa parte da população indígena da etnia Mura, é seguido por Belém, no Pará (107), Tefé (100), Curuçá, Pará (97), Tabatinga (91), Coari (75), Santo Antonio do Iça (74), Laranjal do Jari, no Amapá (71), Amaturá (69), Benevides, no Pará (67).

Manaus (67) fica à frente do Rio de Janeiro (66), única cidade fora do Norte e Nordeste entre a maior taxa de mortalidade, considerada extremamente grave acima dos 60. A lista dos municípios com maior taxa de mortalidade segue ainda com Barcelos (65), Fonte Boa (62), Alvarães (62), todos no Amazonas. Breves (PA) com 61 e Santo Antonio do Tauá, no Pará (60).

A ocupação de leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), vital para recuperação de pacientes, está acima de 80% no raio das cidades citadas. Em alguns municípios como Manacapuru, não há um leito sequer. O cenário é desesperador e preocupa lideranças indígenas locais.

Mais cedo, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazzuelo, afirmou que o cenário no Norte do país é mais grave por conta da proximidade com o hemisfério Norte. A falácia reproduzida de maneira institucional não encontra eco em estudos científicos. Até o momento não há produção de análises que relacionem o clima e a velocidade de propagação do novo coronavírus.

Incidência

O levantamento também aponta que os municípios da região Norte do país possuem maior taxa de incidência de covid-19, ou seja, mais pessoas infectadas em uma escala até 100 mil habitantes.

Essa taxa em Pedra Branca do Amapari, no Pará, por exemplo, é de 7.066 infectados, sendo o município com maior taxa de incidência da doença no Brasil.

Município com a maior população indígena do país, São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, possui 5004 casos, no comparativo por 100 mil habitantes, e ocupa a segunda posição do ranking do Ministério da Saúde.

Em São Gabriel da Cachoeira, mais de 42 povos indígenas emitiram um alerta ao mundo sobre o cenário da pandemia nas aldeias e bloquearam entrada para visitas, em março. Medida freou avanço, mas não impede a circulação do vírus.

Na região Norte, o coronavírus viajou de barco, dormiu em rede e vem aumentando a presença em aldeias. Para além dos números, indígenas do Vale do Javari (AM), por exemplo, temem ter sido infectados pelo vírus após a visita de técnicos da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

Indígenas expostos

Um estudo publicado na última semana pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) revelou que a maior prevalência de pessoas com anticorpos do Sars-cov2, vírus que causa a doença do novo coronavírus, está em um trecho de 2 mil km do Rio Amazonas, entre Belém, no estado do Pará, e o município de Tefé, no Amazonas. A maior incidência foi entre os povos indígenas. Ao todo o estudo realizou 25 mil testes em 90 cidades do Brasil.

Cenário da região brasileira com maior presença indígena expõe a defasagem as políticas públicas tocadas pelas Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Sesai. Denúncias de falta de equipamentos de proteção, ausência de leitos de UTI, e falta de profissionais de saúde acendem alerta para a piora do cenário da pandemia em uma das regiões mais sensíveis do planeta.