Foto: Marcela Bonfim

Por Cley Medeiros, com informações da Ufam

Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Rondônia e Maranhão concentram 63% das mortes causadas pela covid-19 entre populações mocambeiras e quilombolas no Brasil. Em comparação com a média mundial, os óbitos em quilombos por conta do coronavírus são até sete vezes maiores.

O nível de letalidade de 11,5% do SARS-coV-2, vírus responsável pela doença do novo coronavírus, nesses grupos em cinco dos nove Estados que compõem a Amazônia brasileira, passa a ser maior do que entre os indígenas, que estão a morrer na grave proporção de sete e nove pessoas, em média, a cada 100 infectadas, com base em boletins oficiais do dia 12 de junho.

O levantamento destes dados foi realizado pelo coordenador do Subcomitê de Combate à Covid-19 da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas, professor Renan Albuquerque, em conjunto com seu aluno de doutorado, o historiador Ítalo Ferreira de Oliveira, que realiza estudo longitudinal (de longo prazo) sobre modos de vida entre quilombos da Amazônia Central brasileira há cinco anos.

Não existe um número exato de quantos quilombolas existem, hoje, no Brasil. Um levantamento da Fundação Cultural Palmares aponta que são 3.524 grupos remanescentes. Desses, só 154 foram reconhecidos. Pelos dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), outros 1.700 grupos estão aguardando a conclusão dos estudos antropológicos ou a emissão de laudos técnicos para conquistar um título. Quase dois terços dessa população está na Amazônia.

“São 71 mortes e 44 delas já aconteceram em comunidades quilombolas do bioma. Os dados indicam que a Amazônia brasileira abriga a mais alta taxa de mortalidade por covid-19 para quilombolas de toda a América Latina”, destacou Albuquerque no boletim científico da UFAM.

Os pesquisadores são categóricos em afirmar que o triste cenário é decorrente da falta de atenção por parte do Estado brasileiro em relação a direitos de mocambeiros e quilombolas.

Os pesquisadores evidenciam, também, que as condições sócio-sanitárias impostas pelo descaso do Estado brasileiro aliado racismo institucional torna a população quilombola uma das mais vulneráveis diante do avanço da pandemia, que até o momento já matou mais de 400 mil pessoas, e registra sete milhões de infectados, conforme a Organização Mundial de Saúde.

“As baixas entre quilombolas estão sendo observadas em decorrência de uma política segregacionista, com discurso raciológico, do governo federal, que não implementou um único plano emergencial que viesse a atender a necessidades de alimentação, sanitárias e profiláticas das populações quilombolas urbanas e rurais”, complementou ele.

Indígenas e quilombolas expostos

Os resultados da pesquisa apontam que até metade das remoções de casos graves da covid-19, que chegam a ser realizados de avião a partir de comunidades mocambeiras e quilombolas para hospitais em centros urbanos, são infrutíferas e terminam em morte por causa da baixa resistência impostas historicamente aos pacientes. Esses números estão na mesma ordem de registro para indígenas na Amazônia, segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Segundo a pesquisa, números piores poderão ser registrados no fim de junho, como resultado do avanço da derrubada de medidas de isolamento.