Foto: Foto: Ingrid Anne/Semcom

O hospital de campanha de Manaus com uma ala dedicada para indígenas deixou de atender a partir dessa segunda-feira (15) novos pacientes com covid-19. Segundo a prefeitura, dos 180 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e em enfermarias, apenas 46 estão ocupados. Desativação completa vai ocorrer após a alta desses pacientes.

Ala indígena no hospital foi uma das principais conquistas de uma rede de articulação de lideranças locais que pressionaram os governos para efetivação de medidas enérgicas no enfrentamento da pandemia, que avança nas aldeias, comunidades quilombolas e ribeirinhas.

Desativação ocorre em meio ao cenário de 2.492 mortes devido a doença e 56.504 mil casos confirmados no estado desde o fim de março, conforme dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), de ontem (15). Manaus chegou a colapsar o sistema funerário em abril após alta de mortes por insuficiência respiratória.

Segundo a Prefeitura de Manaus, no local foram curados cerca de 570 pacientes, sendo 28 indígenas de diferentes etnias e regiões do Amazonas. O último a receber alta foi Mateus Batista, de 64 anos, da etnia Sateré-Mawé, e deixou o hospital na última sexta, 12″, divulgou a prefeitura.

Com a decisão, apenas dois outros hospitais geridos pelo governo estadual passam a atender pacientes com covid-19. Apenas um deles, o Hospital de Campana Nilton Lins, possui ala com leitos dedicados para indígenas.

A decisão do prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) é controversa e vem sendo bombardeada de críticas por entidades de saúde e direitos humanos, além de ter provocado protestos por lideranças indígenas locais.

“A gente já sofre com a falta de assistência nas aldeias. Já tem parentes morrendo por que não consegue transferir da aldeia para Manaus. E agora a gente perde mais uma vez com o fim desses leitos. É muito triste”, lamenta Otavio Mura, que mora em Manaus no Parque das Tribos, a primeira comunidade indígena em área urbana reconhecida pelo governo.

Medida da Prefeitura de Manaus foi reprovada por mais de 30 organizações que representam direitos indígenas na sociedade civil, em um comunicado que será divulgado em conjunto nesta quarta-feira (17), informou o Centro Indígena de Proteção e Direitos Humanos (Cipdh).

Dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) apontam que o Amazonas representa 60% das mortes indígenas por covid-19 no Brasil, que até ontem (15) registrou 101 mortes de indígenas pela doença.