Durante a sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), a advogada e indígena do povo Baré Cristina Soares denunciou o governo brasileiro durante seu discurso nesta quarta-feira (23). Cristina representou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) durante a sessão do conselho.

“A situação dos defensores dos direitos indígenas no Brasil é muito grave e muito tensa. A atuação e a defesa das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas provocam ameaças e intimidações”, disse Cristina.

A advogada também denunciou a ofensiva do governo brasileiro contra organizações indígenas, e citou a fala do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, que por meio de uma mensagem no Twitter nessa terça (22), afirmou que as organizações cometiam ‘crime de lesa-pátria’.

“A administração da organização é de brasileiros, filiados a partidos de esquerda. A Emergency APIB é presidida pela indígena Sônia Guajajara, militante do PSOL e ligada ao ator Leonardo Di Caprio, crítico ferrenho do nosso país. O site da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) se associa a diversos outros, que tb trabalham 24 horas por dia para manchar a nossa imagem no exterior, em um crime de lesa-pátria”, escreveu o ministro.

A paranoia do governo brasileiro em relação às Organizações Não Governamentais já ficou explícita em recentes episódios, como na declaração de Bolsonaro que interesses estrangeiros podem estar por detrás dos incêndios na Amazônia e no Pantanal, atuando por meio de ONGs.

A advogada classificou que os povos indígenas entre os mais ameaçados. “Cacique Babau, do povo Tupinambá, e Alessandra Cora, do povo Munduruku, seguem ameaçados de morte. Também Uru-Eu-Wau-Wau e Guajarara estão ameaçados, e alguns foram assassinados por atuarem na proteção territorial e ambiental. Os povos Pataxó, Mura, Ticuna, Guarani, Awá-Guarani, Pankararu e Yanomami também estão em perigo”, completou a advogada.

A Conectas Direitos Humanos também denunciou o governo brasileiro durante a reunião do conselho. “Discursos agressivos de autoridades brasileiras incentivam a violência contra povos indígenas e defensores do meio ambiente, lembrando que são justamente os povos originários que mais protegem o meio ambiente em nosso país. O Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para os defensores indígenas dos direitos humanos”, alertam as organizações”, afirmou no documento.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) protocolou, também nesta terça-feira, no Supremo Tribunal Federal (STF) uma interpelação para que o governo explique na Justiça as mentiras que propaga e comunicou à ONU os ataques feitos aos povos indígenas.