Por Lidiane Barros
Há duas semanas atuando como voluntária, recolhendo frutas e verduras para os animais que agonizam com fome e sede no Pantanal, a estudante de Pedagogia Bianca Weihs levou um tapa na cara de um estranho.
O motivo? Em seu carro havia um papel impresso ilustrado com imagem de onça e incêndio ao fundo e que trazia o apelo “O Pantanal pede socorro”.
Ela saía do estágio no bairro Goiabeiras, em Cuiabá (MT), quando foi surpreendida por um homem que retirou o impresso colado com fita no vidro traseiro.
“Eu estava me acomodando no carro quando vi a cena e ele rindo, me perguntou: ‘gostou’? Pensei: ‘coloco dois amanhã. Vida que segue’”.
Eis que no cruzamento, na mesma via, o avistou do lado contrário.
“Quando me viu de novo, começou a me xingar muito e perguntou: “quer de volta?. Foi então que pegou o papel, puxou a calça e a cueca e o esfregou na bunda, vindo em minha direção”.
O papel foi jogado para dentro do carro. “Eu travei e comecei a fechar o vidro, mas ainda deu tempo de ele esticar o braço dentro do carro e me dar um tapa na cara”.
Se o vir de novo, Bianca acredita que conseguirá identifica-lo. “Estava sem máscara. Típico negacionista”, avalia.
“Tem gente que não está percebendo o que está acontecendo. Esse episódio não me desanima. Vou continuar lembrando. Pessoas com atitudes como esta desconhecem os impactos dessa tragédia ambiental na própria vida. Talvez, por falácia política. Claramente absorveu o discurso do Bolsonaro”, apontando a inabilidade do presidente que nesta semana deu vexame na ONU.
“Somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”, disse em seu criticado discurso.
Bianca procurou a polícia e também registrou um boletim de ocorrência.
“Tenho medo, vai que eu encontro esse cara de novo? Denunciá-lo é uma forma de me defender. Identificá-lo é a melhor opção neste momento”.
Mas por conta de equipe reduzida, o delegado orientou que ela solicite e-mails dos locais do entorno do fato que têm câmeras, para que ele então peça as imagens.
“É por segurança. Mas acho que isso me deu mais força, porque é isso que eles querem que a gente faça. Que a gente desista”. Assustada, Bianca ainda conseguiu registrá-lo seguindo de costas, como se nada tivesse acontecido.
“Penso: ‘por que será que eu o irritei tanto? Pelo alerta sobre o Pantanal que está ardendo em chamas há dois meses? Os animais morrendo? A fumaça tomando conta das cidades?’”.
Diante do fato ocorrido nessa quarta-feira (23), a universitária encontra mais forças na família e amigos. Uma rede também se formou em solidariedade à voluntária. “Domingo vou levar mais doações e desta vez, vou contar com o apoio da minha mãe que vem do interior para ajudar”.
Há duas semanas somou forças a uma campanha iniciada por uma amiga cujo pai teve que abandonar o posto em um pesqueiro em Santo Antônio de Leverger (a 35 km de Cuiabá) por conta do avanço do fogo.
“Comecei comprando as frutas, mas ao pedir as frutas que não seriam mais colocadas à venda, recebi doações também. Na semana passada somadas todas as doações, com os outros voluntários, levantamos mais de 100 kg de alimentos para os animais”, orgulha-se.