O fogo acompanha a saga da corrida humana ao longo da história. Os indígenas no agora chamado Estado do Acre fazem fogo para diversos fins há pelo menos uns 5 mil anos. Mas, a chegada de incêndios vindos de fora dos limites de Terras Indígenas, protagonizada em grande medida pelo avanço da atuação do agronegócio, têm ameaçado não só a biodiversidade, mas também grupos em isolamento voluntário, ou de recente contato.
Um levantamento realizado pela Casa NINJA Amazônia aponta que só nas últimas 24 horas, as áreas entorno das TIs Igarapé Capanã, Camicuã, Alto Rio Purus, Kaxarari e Jaminawa tiveram registro de 143 focos de calor.
Para se ter uma ideia, um foco indica a existência de fogo que varia de 1 km x 1 km até 5 km x 4 km. Ou seja, se considerarmos um para um, povos isolados no Acre inalaram fumaça de 143 quilômetros quadrados de potenciais queimadas. O levantamento utilizou dados do Instituto Socioambiental (ISA).
Entretanto, se considerarmos os focos de calor na área de fronteira entre o Acre e a Bolívia, esse volume pode crescer consideravelmente para 338 quilômetros quadrados. O levantamento também aponta que os incêndios no Acre ocorridos nas últimas 24 horas iniciaram fora das áreas indígenas demarcadas.
Isolados saem para contato
Com o aumento das invasões pelos incêndios, ações de desmatamento, garimpo e grilagem nas Terras Indígenas, também aumentou o registro de contatos de isolados em comunidades rurais desde o início da pandemia de covid-19. Na fronteira do Acre com o Peru, um grupo de 10 e 20 indígenas com mulheres e crianças realizaram contato com o Povo Kulina, também de recém-contato, no início do mês de agosto.
Na ocasião, o cacique Cazuza Kulina disse que não pode identificar a qual povo os indígenas pertenciam, e também relatou que teve dificuldades de se comunicar com eles. O risco do novo coronavírus também aumenta o temor de infecção nos isolados, que não possuem histórico de imunidade para uma série de doenças hoje comuns entre os não indígenas.
Um relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) aponta as queimadas como uma das principais pressões e violações contra indígenas em 2019. Clique aqui e confira o relatório das violações de direitos indígenas do CIMI.