Alagamento no Jardim Marco Zero. Foto: Núbia PachecoNúbia

Por Luiza Nobre, amazônida, estudante de jornalismo, fotógrafa e midiativista. Jovem pesquisadora na área de Memória e Narrativas no tempo livre, artista visual em tempo integral.

Na tarde de domingo, 22 de novembro, após um temporal, vários pontos de Macapá foram alagados em diferentes regiões baixas da cidade, como os bairros Centro, Santa Rita, Jesus de Nazaré, Beirol, Novo Esperança, Jardim Açucena e Muca. A chuva, registrada como a maior deste ano no Amapá, intensificou o cenário de calamidade já desenhado pela crise elétrica que se estende há mais de 20 dias no estado.

Av. Cora de Carvalho em obras. Foto: Laura Machado

Av. Cora de Carvalho em obras. Foto: Laura Machado

Segundo o Núcleo de Hidrometeorologia (NHMet) do Amapá, o volume da chuva foi equivalente a metade do que já havia caído no mês de novembro. “Teve um acúmulo de 74 milímetros em menos de uma hora, e se estendeu por toda a faixa Sul, Central, Oeste e parte dos municípios do Norte do estado até próximo de Amapá e Calçoene”, explicou o meteorologista Jefferson Vilhena.

Desde o início da tempestade, a população usou as redes sociais para registrar os danos causados pelo alto nível da água que inundou casas, estabelecimentos comerciais e deixou intrafegável algumas das principais ruas da cidade, como a Leopoldo Machado e Cora de Carvalho.

“Moro na divisa entre Leopoldo Machado e Piauí e sempre alagou. Eu moro aqui desde pequena, hoje tenho 24 anos e sempre convivemos com o alagamento. No ano passado, minha casa inundou 12 vezes, até onde contamos, mas só quando as chuvas eram muito, muito intensas. Contudo, as últimas obras feitas na rua Leopoldo Machado, neste ano, que deixou a rua mais alta fez com que chuvas de qualquer intensidade causasse alagamentos nesse trecho”, relatou Adriana Barbosa, moradora do bairro Pacoval.

Dando continuidade na obra no dia 11 de novembro, a Prefeitura Municipal de Macapá (PMM) retomou o trabalho de mobilidade urbana na Av. Cora de Carvalho, que interliga o bairro alvorada a região central da capital. “O trabalho na Avenida Cora de Carvalho ocorre dentro do prazo previsto no projeto, em trechos que requer atenção para drenagem”, comentou o secretário municipal de Obras, David Covre. A avenida foi um dos pontos mais atingidos pela chuva, comprometendo o fluxo de carros e pedestres com o início na tarde de domingo.

“Desde o início a água começou a entrar na rua e transbordou, subiu acho que 1m na casa. A água dessa vez não escoou e isso nunca aconteceu antes, de transbordar água da rua e a gente só conseguiu fazer com que parasse de subir porque os vizinhos se uniram e abriram a boca de lobo. A gente teve que interditar, fazer os carros pararem de passar, abrir esse bueiro e tirar a água por ali. Tentamos ligar para a defesa civil, mas não apareceram, fomos nós por nós para se ajudar”, lembra a Núbia Pacheco, moradora de área periférica do Jardim Marco Zero, que precisou carregar a mãe pela janela para escapar da água.

 Casa de moradora do bairro Jardim Marco Zero alaga durante temporal. Foto: Núbia Pacheco.

Casa de moradora do bairro Jardim Marco Zero alaga durante temporal. Foto: Núbia Pacheco.

Jardim Marco Zero alagado com a chuva. Foto Núbia Pacheco

Jardim Marco Zero alagado com a chuva. Foto Núbia Pacheco

Ainda no início da noite, a defesa civil iniciou o trabalho de monitoramento das drenagens nas vias alagadas, assim como a sinalização e orientação para o tráfego de veículos. “A maioria das ocorrências foram nos bairros próximos ao canal do Beirol, foi verificado uma obstrução na bacia que liga o canal do beirol com o canal das pedrinhas. Verificamos também a questão dos lixos acumulados, o que causou o entupimento dos bueiros gerando os transtornos pela falta de vazão das águas da chuva”, disse o Comandante da defesa civil municipal Aldair Santo em coletiva.

A prefeitura aproveitou para solicitar a colaboração da população no que diz respeito ao descarte correto do lixo, que se encontrou acumulado pela extensão por onde a água percorreu. Estima-se que cerca de 150 toneladas de dejetos tenham sido retirados dos canais e vias públicas.

APAGÃO

Após um dia da visita do Presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) à Macapá, no dia 21 de novembro, para o restabelecimento integral da energia elétrica no estado, quedas de energia continuaram a acontecer, além da CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá) dar continuidade ao regime de racionamento entre os bairros da capital.

Em discurso feito durante a cerimônia de ativação dos geradores na subestação de Macapá, o presidente disse que “isso que demoraria por volta de 90 dias para ser restabelecido, mesmo não sendo uma atribuição federal, nós mergulhamos, em especial pelo pedido do nosso presidente do Congresso Nacional [e do Senado], Davi Alcolumbre, e hoje em dia podemos dizer que estamos nos aproximando dos 100%”, afirmou.

Durante a tempestade, que iniciou já comprometendo o fornecimento de energia em alguns locais da capital, houve explosão e curto-circuito na rede elétrica da rua Laranjeiras, no bairro Brasil Novo, zona norte da capital. O incidente foi ocasionado pelo atrito entre fios de alta tensão. Os moradores, com medo da situação, registraram o momento da explosão em vídeo publicado no Twitter.

Em nota, a assessoria de imprensa da CEA informou que o Centro de Operações registrou um alto índice de demandas destinadas às equipes que estavam em campo para corrigir os problemas causados na rede pela vegetação e fortes ventos; e que a força-tarefa também seria reforçada para atender todas as ocorrências durante esse período.

COVID

Com um registro de 526 atendimentos de consultas a pacientes com sintomas da síndrome respiratória, indicativo da COVID-19, as UBS’s de referência para tratamento do Coronavírus (Lélio Silva, Álvaro Corrêa e Unidade Básica Santa Inês) prescreveram, em 24 hora, 404 receituários e 222 testes rápidos, sendo 51 deles com resultado positivo. O município tem agora 20.573 casos descartados, 18.778 pessoas recuperadas e 3.170 exames aguardam análise laboratorial de pacientes suspeitos.

Atingida pela forte chuva, a unidade básica Lélio Silva, na Zona Sul de Macapá, enfrentou a entrada de água no equipamento de saúde durante os atendimentos. Em vídeo o Diretor da UBS, Emanoel Martins, explicou como aconteceu o alagamento e a partir disso, as medidas que foram tomadas pela equipe de saúde para o escoamento.