As novas espécies, nomeadas Utricularia ariramba e Utricularia jaramacaru, homenageiam os rios próximos a onde foram descobertas no Pará.
O Brasil é o país com a maior diversidade conhecida de plantas do mundo. Ainda assim, centenas de novas espécies são descritas a cada ano, tornando o Brasil também o país onde mais se descobrem espécies novas de plantas no mundo todo. Essas descobertas acontecem muitas vezes em expedições de campo, outras por meio de registros armazenados em herbários, que nada mais são que museus de plantas. Nesses museus, plantas desidratadas ficam armazenadas anexadas a etiquetadas com dados de onde e quando foram coletadas, além de informações como a cor das flores e o habitat em que foram encontradas.
No caso dessas duas novas espécies de plantas carnívoras, uma expedição de campo composta por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável, ambas de Belém, foram responsáveis pela descoberta. A região é conhecida como Campos do Ariramba e fica localizada na Floresta Estadual de Trombetas, confluência dos Rios Tapajós e Maicuru, no estado do Pará. Além dessas novas espécies, os pesquisadores encontraram diversos novos registros de plantas no local.
Somado aos materiais coletados nas recentes expedições, exemplares das espécies de Utricularia foram descobertos armazenados em herbário, amostras essas coletadas há mais de 60 anos que só agora foram identificadas. “As espécies são primeiramente encontradas em campo, suas amostras são guardadas em herbários, mas a sua identificação precisa depende que um especialista analise o material e indique o nome correto. Dessa forma, muitas espécies novas já estão ‘guardadas’ nos herbários, mas ainda esperam sua descoberta por especialistas naqueles grupos”, responde a pesquisadora Caroline Oliveira Andrino, autora do trabalho.
“As duas espécies descritas possuem estruturas subterrâneas chamadas de utrículos que são armadilhas que capturam pequenos animais que vivem no solo. Essas armadilhas se assemelham a pequenas vesículas que ficam tensionadas a espera das presas. Quando um animal se aproxima, a armadilha se abre através de uma pequena válvula, impulsionando uma corrente de água para dentro dos utrículo que traz junto pequenos organismos”, explica o professor Paulo Gonella, da Universidade Federal de São João del-Rei, especialista em plantas carnívoras.
Os pesquisadores também utilizaram dados recentes sobre o desmatamento para entender as ameaças que essas espécies, que só foram descobertas agora, sofrem. O que chamou atenção foi que “as queimadas recentes da Amazônia estão ameaçando a existência das novas plantas carnívoras” responde o pesquisador Rafael Gomes. Os pesquisadores temem que o ritmo acelerado de desmatamento e queimadas na Amazônia afete as Utricularias descobertas, e enfatizam que existem muitas espécies desconhecidas pela ciência que podem desaparecer sem sequer serem descobertas se que o atual ritmo de desmatamento, incêndios criminosos e a política ambiental nacional forem mantidos.
O artigo científico que descreve a descoberta foi publicada na revista científica internacional Phytokeys. A pesquisa foi desenvolvida por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal de São João del-Rei, e no Instituto Tecnológico Vale, com a colaboração de pesquisadores da Alemanha e Austrália, do Botanische Staatssammlung München e University of Queensland respectivamente.