Depois dos ataques armados em maio, a situação em Palimi ú só piorou. Uma atmosfera de terror continua pairando sobre a comunidade Yanomami que fica no extremo norte do país, em Roraima. Buscando apoio para a retirada total de invasores, lideranças foram até a Hutukara Associação Yanomami, em Boa Vista (RR) para alertar sobre a situação atual.
Segundo indígenas, dia e noite garimpeiros armados transitam pelo rio Uraricoera. Eles detectaram também, mudança de padrões na invasão, sinalizando mais risco às famílias da comunidade e também, preocupação quanto a níveis mais extremos de degradação ambiental.
Além no aumento da circulação de invasores e consequentemente de embarcações, lideranças da comunidade relataram presença de forte maquinário e o uso de aeronaves, carotes e quadriciclos. As balsas, outrora de madeira, foram substituídas pelas de ferro. As dragas são para eles indicadores de mudança na escala da atividade garimpeira.
Parte dos relatos, divulgados pelo Instituto Socioambiental (ISA), aponta que houve aumento de currutelas, acampamentos e pontos de abastecimento dos garimpeiros ao longo do rio.
“Nestes lugares, a presença dos não indígenas ali é tão intensa que os Yanomami sentem que perderam o controle sobre a sua própria terra”, lamentaram.
Outro indicador da expansão da atividade garimpeira relatado pelas lideranças é a abertura de estradas ao longo do garimpo Tatuzão e na região do Rio Aracaçá, com aumento do uso de quadriciclos, que são transportados até essas áreas por via fluvial.
O serviço de um piloto de quadriciclo rende cinco gramas de ouro por dia e é organizado em dois turnos, de dia e noite. A abertura dessas estradas para quadriciclos na região do Tatuzão, no interior da Terra Indígena, já havia sido denunciada em 2020 por lideranças Ye’kwana.
“É indicativo da expansão do garimpo também a aproximação dos invasores das comunidades, com o intuito de encontrar outros sítios para exploração. Os garimpeiros alegam que o ouro está acabando nos canteiros rio acima, e afirmam já terem mapeado a presença minerária próxima às aldeias”, disseram as lideranças.
A degradação da floresta fez também a caça emagrecer, que, segundo eles, tem comido lixo plástico deixado pelos garimpeiros.
A contaminação do rio também é constatada pelo aspecto barrento da água. Entendem que a ‘sujeira’ (xami) do garimpo tem produzido danos à saúde das pessoas” e pontuam que, antes do garimpo, a “pescaria era boa, e a caçaria também”.
Os impactos na economia comunitária são descritos em uma das suas principais atividades: a pesca. As lideranças relataram que hoje não pescam mais no Rio Uraricoera, não apenas por reconhecerem a sujeira dos rios, mas também por sentirem medo da presença dos garimpeiros. Como estratégia de proteção, também tem reduzido deslocamento até às roças.
“Esses fatos demonstram que a sustentabilidade econômica das comunidades de Palimiú está comprometida, e sua capacidade de obter alimentos poderá se esgotar no médio prazo.”
Há muitas pessoas doentes sem assistência também. Após o primeiro ataque, em 10 de maio, a equipe multidisciplinar de saúde do DSEIY foi retirada do pólo base e as lideranças falam do aumento do número de casos de malária e diarreia.
Fonte: ISA