A contaminação por mercúrio continua ameaçando as gerações futuras (Mídia Ninja/Expedição Yanomami Okrapomai)

 

As mães Yanomami têm alertado incessantemente que o garimpo ilegal ameaça o futuro dos seus filhos. A morte de dois meninos de 5 e 7 anos, sugados por maquinário do garimpo foi um dos mais tristes episódios já noticiados nos últimos tempos. E diária e silenciosamente, a degradação ambiental que os invasores promovem, impactam as comunidades – que mantem uma relação sagrada com seu território – e vão ceifando ainda mais vidas. A atividade garimpeira é crescente e aumenta em grau de violência e devastação.

O tema foi assunto do II Fórum de Lideranças Yanomami e Ye´kwana, que ocorreu em setembro, na região da Tabalascada, município do Cantá, ao norte de Roraima. A reportagem do Amazônia Real marcou presença e reproduziu testemunhos dramáticos de mães que muito mais que suas vidas, temem pela de seus filhos.

Elas relataram que “muitas crianças estão nascendo com má formação por consequência do garimpo ilegal. Algumas são obrigadas a enterrar as que não sobrevivem. Outras têm de lidar com a interrupção da gestação. Os filhos que sobrevivem correm o risco de sofrer com a desnutrição. A água dos rios está suja de mercúrio, contaminando os peixes e as caças. Amamentar se tornou um perigo. E doenças que poderiam ser facilmente tratadas, como malária, diarreia e pneumonia, já mataram dezenas de crianças entre 2020 e 2021”, diz trecho da reportagem.

No documento há o relato de dezenas de crianças mortas nas seguintes comunidade: Kayanau (12 mortes em 2020), Palimiu (13 entre 2020 e 2021, de diarreia e pneumonia), Haxiu (4 em 2021), Baixo Mucajaí (3 em 2021), Marauiá (4 entre 2020 e 2021, de malária), Baixo Catrimani (2 crianças neste ano, de pneumonia), Korekoma (3 de pneumonia, no ano passado) e Keeta (5 entre maio e julho por falta de atendimento). Em janeiro inteiro deste ano, o polo da comunidade Surucucu ficou fechado e 54 Yanomami, adultos e crianças, morreram.

Atendimento deficiente na saúde indígena é um dos fatores que têm agravado ainda mais a situação. No documento os Yanomami e Ye´Kwuana relembraram como costumava ser o atendimento aos povos indígenas antes de Bolsonaro. “As aldeias possuíam rádios que funcionavam, os postos de saúde estavam abastecidos, havia uma estrutura que dava conta de cuidar dos Yanomami. Os médicos visitavam as comunidades com frequência e buscavam entender nossa cultura para saber como estava a saúde de cada um de nós, antigamente não faltava remédio para doenças simples, por isso a saúde era boa”.

E se os indígenas não têm atendimento nas aldeias, imagine só nos hospitais de Roraima. Por vezes, por vezes não conseguirem o apoio de quem fala a língua do povo Yanomami, o atendimento desses cidadãos, que têm direito à saúde como qualquer outro brasileiro, vai sendo adiado ao ponto que muitos desistem.

As associações que assinam a carta protocolada pedem investigação com urgência no Dsei-YY. “Queremos formação de AIS (Agente Indígena de Saúde), Aisan (Agente Indígena de Saneamento) e guarda de endemias Yanomami e Ye’kwana para podermos cuidar do nosso povo. Pedimos  que o Ministério Público investigue o Dsei-YY, e para onde está sendo destinado o recurso que deveria ser usado para melhorar a saúde dos povos Yanomami e Ye’kwana, solicitamos transparência do Dsei-YY através do Condisi-YY,  queremos que o Condisi-YY convoque todas as associações para falar dos assuntos da saúde”, prossegue o documento.

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