Por Francisco Piyãko*

No último mês, participei de uma mesa redonda organizada pelo Governo do Pará e pelo Fórum Mundial de Bioeconomia. Alertei que se não tiver a participação dos povos da floresta, não há legitimidade nas discussões sobre a bioeconomia.

Na oportunidade, durante a mesa redonda afirmei que a Amazônia tem um papel importante para o mundo e vários estudos e pesquisas também comprovam o seu potencial econômico. Mas, não tem nada nesse mundo que vai sobreviver ao sistema capitalista. Não é só a questão de fazer um uso sustentável, mas os limites que são ultrapassados quando algo pode ser transformado em dinheiro.

Hoje, infelizmente vemos o Fórum Mundial de Bioeconomia sendo realizado em Belém, sem a participação efetiva dos povos da floresta entre os debatedores e palestrantes. Os Povos da Floresta tem um modo de pensar muito diferente destes grupos que vêm em nome de uma nova economia, fazer o uso dos recursos da floresta com essa palavra bonita bioeconomia. Muitas empresas querem continuar usando os recursos da Amazônia sem medir os limites.

A floresta tem sua capacidade, mas impor esse modelo capitalista de uso dos recursos  não vai dar sustentabilidade. O pensamento deles não é fazer o uso do que a Amazônia pode oferecer, é sim explorar, destruir, acabar e passar por cima de todos os valores que estão aqui, somente por dinheiro.

As consequências vão ser muito grandes e a própria natureza vai reagir a isso. Já sentimos o meio ambiente mudar. Reafirmo, para as populações que aqui vivem, o que importa não é o lucro, mas a preservação dos nossos territórios e biodiversidade que garantem a nossa existência.

Sem a participação dos povos da floresta, indígenas, extrativistas e ribeirinhos, quem vai ser dono do negócio são as empresas. E nós sabemos como as empresas nos trataram no passado e nos tratam no presente, ainda.

Me somo aos companheiros e companheiras que estão também em Belém, no Encontro Amazônico da Sociobiodiversidade, organizado pela Coiab e pelo CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros), em paralelo ao Fórum Mundial de Bioeconomia. Devemos fortalecer nossa Aliança dos Povos da Floresta em defesa do nosso futuro!

 

* Francisco Piyãko é liderança do Povo Ashaninka, da Aldeia Apiwtxa e Coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj). Foi secretário de estado no governo do Acre e assessor da presidência da Funai