A Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LCP) exige punição imediata aos executores e mandantes das mortes dos trabalhadores rurais Gedeon José Duque e Rafael Gasparini Tedesco. A organização denuncia que no dia 29 de outubro, policiais militares do Batalhão de Operações Especiais assassinaram seus companheiros de luta.
“Os assassinatos ocorreram na região de Nova Mutum, nas áreas invadidas pelas operações ilegais da PM contra as mais de 700 famílias, que desde o início de outubro nunca cessaram, mesmo contrariando duas decisões do STF. Como de praxe a matilha da reação contam a estorinha de sempre, de confronto, de troca de tiros, para encobrir seus crimes cotidianos contra os pobres e lutadores”, disseram em comunicado à sociedade.
Devido aos constantes episódios de violência, os trabalhadores rurais pedem que forças policiais deixem de circular por suas áreas e que lhes seja garantida a posse das áreas Tiago Campim dos Santos e Ademar Ferreira. Segundo os relatos dos camponeses, Gedeon e Rafael, lutavam por um pedaço de terra para sobreviver e foram mortos por isso. Eles acusam o governador Marcos Rocha e Jair Bolsonaro de agirem em defesa de grandes latifundiários que tomam para si, terras da União.
“Durante a injusta e ilegal operação de guerra contra as famílias da área Tiago dos Santos e Ademar Ferreira, movida por diversos aparatos do velho Estado, principalmente a PM e Força Nacional de Segurança, ademais de dezenas de guaxebas, parte destas famílias foram retiradas das suas terras e jogadas à própria sorte numa escola na região conhecida como Vila da Penha, e mantidas sob constante ameaças das tropas policiais”, denunciam.
A informação, segundo eles, vai na contramão do que teria afirmado o comandante-geral da PM, coronel Alexandre Almeida que havia dito que tudo transcorreu sem problemas e que as famílias despejadas teriam ficado em uma pousada com direito à alimentação.
De acordo com a Liga Camponesa as famílias foram submetidas a condições insalubres, sem água, alimentação e sofreram ainda, “revistas humilhantes, espancamentos, ameaças, intimidações, enquanto que tropas perseguiam as famílias que se embrenharam na mata, além de destruírem moradias e outras benfeitorias, roubando produção das roças, criações e demais pertences dos camponeses, inclusive um posto de saúde que existia na área com todos os equipamentos que tinham dentro, entre outras arbitrariedades já denunciadas”.
Boa parte das famílias não chegou a ser removida de seus lotes e seguem na resistência. No dia 27 de outubro, centenas de famílias expulsas das Áreas Tiago Campin dos Santos e Ademar Ferreira retornaram às suas terras depois de empreenderem uma grandiosa resistência diante de uma escancarada operação de guerra levada a cabo por mais de 3 mil tropas da Polícia Militar de Rondônia (PM-RO) de Marcos Rocha e da Força Pública de Segurança Nacional do governo militar genocida de Bolsonaro. Dentro da Área, os camponeses realizaram a Assembleia Popular (AP) reafirmando a determinação de seguirem lutando por suas terras.
Já outra parcela removida, segue realizando assembleias e fechando a rodovia BR 364 como forma de protesto.
“A PM, Força Nacional, e pistoleiros dos latifundiários Galo Velho e da família Leite (estes pistoleiros chamados “funcionários”, muitos dos quais se apresentando uniformizados como “equipe de apoio”) seguiram cometendo crimes na covarde operação ao longo das semanas, que segundo o próprio comandante-geral da PM, está custando aos cofres públicos cerca de 1 milhão de reais por dia”.
Nesse meio tempo, o STF teria determinado a suspensão da operação, já que a corte decidiu que todos os despejos e operações em favelas durante a pandemia de covid-19 estão proibidos. E mesmo após recurso com pedido de reconsideração do latifúndio e PM, a decisão da suspensão foi mantida.
Mas ainda assim, a PM manteve a operação, como informa a Liga dos Camponeses, mantendo a região sitiada. Eles estariam cerceando o direito dos moradores de transitar pelo local, mantendo ocupações ilegais das casas dos moradores e ainda, construindo bases dentro da área e caçando as lideranças da Liga dos Camponeses Pobres.
Uma Missão de Solidariedade, reunindo diversas entidades democráticas, de direitos humanos e sindicais se deslocou até à região junto com moradores, mas foram impedidos de entrar na área, bem como as famílias despejadas foram ilegalmente constrangidas e impedidas de retornar para suas posses.
“Mesmo constrangida e ameaçada a Missão de entidades desmascarou os argumentos do coronel Alexandre Almeida comandante dessa PM, que apesar de tão pouco tempo de existência tem folha corrida de crimes e massacres de indígenas, camponeses, dos pobres de Rondônia e os serviços sujos desde sempre prestados ao latifúndio de causar inveja às suas seculares irmãs dos demais estados do Brasil”.
Para saber mais sobre a situação de conflito em Rondônia, acesse o documento publicado pela Liga, clicando aqui.