No Pará, o governo decretou situação de emergência em 17 municípios por conta das cheias, mas é a população de Marabá a mais atingida. Mais de 3.400 famílias tiveram sua rotina impactada. A água alcançou até mesmo espaços da Prefeitura, dedicados a acolher os desabrigados. Em muitos pontos da cidade a água chegou aos telhados e alcança até o centro do núcleo Velha Marabá – como muito tempo não acontecia.
Isso se deve ao aumento do nível do Tocantins, que subiu para 13,9 metros, o dobro do normal. Todos temem que o cenário da enchente de 1980 – quando o rio atingiu a marca de 17,42 metros -, se repita. Segundo a Defesa Civil, já são 680 o número de desabrigados e 1830 desalojados – que têm outro lugar para ficar. Dentre as milhares de famílias, 485 são ribeirinhas e outras 435 estão ilhadas, vivendo em nível superior de suas casas. Lanchas têm levado cestas básicas até esses locais de difícil acesso.
Na zona urbana as pessoas buscam apoio no núcleo de atendimento montado no Centro Regional do Governo em Marabá, tanto para sair de suas casas quanto para obter auxílio de um salário mínimo. Ao todo 17 abrigos estão distribuídos por vários pontos da cidade.
Com prioridade para os desabrigados, o suporte é direcionado a quem tem renda familiar de até três salários mínimos e que reside em imóvel que tenha sido direta e gravemente atingido pelas fortes chuvas que causaram deslizamentos, inundações, enxurradas e alagamentos.
Especialistas creditam o adiantamento do período de cheias, que costuma ocorrer entre o final de fevereiro e início de março – mas não com essa gravidade – a chuvas que caíram nas bacias e cabeceiras dos rios Araguaia e Tocantins, que abrangem os estados do Pará, Maranhão, Goiás, Tocantins e Mato Grosso.
Há duas semanas já haviam sido emitidos alertas e agora, a população sofre com esta que já é considerada a maior cheia no mês de janeiro, dos últimos 20 anos.
O boletim climatológico, divulgado pelo Governo no início do mês, chamava a atenção sobre o volume de chuvas acima do esperado para janeiro em grande parte do território paraense.
Santarém
Situada na região do Baixo Amazonas, Santarém é outra cidade cuja população está em alerta e que também, consta no Decreto de Situação de Emergência publicado pelo Governo do Pará. Segundo o site Tapajós de Fato, no dia 12 de janeiro a Defesa Civil de Santarém registrou a marca de 5,56 m de nível do rio. Para se ter uma ideia, em 2009, ano da maior cheia da região, na mesma data, o nível alcançado foi de 3,72 m. “Ou seja, o nível está 1,50 m acima da cota de 2009, lembrando que a cota de alerta do município é de 7,10 m”, diz trecho da reportagem.
A professora do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas, da Universidade Federal do Oeste do Pará, Leydiane Leão, avalia que as chuvas da região Norte estão mais intensas e iniciando, um pouco mais cedo. “Fatores dos sistemas climáticos influenciam o aumento da chuvas no Pará”. Ela explica que isso deve à atuação de dois sistemas climáticos: La Niña, que causar chuvas acima do normal climatológico para a região e a Zona de Convergência Intertropical, que é responsável pelo inverno amazônico. “Ocorreu a aproximação precoce da zona em decorrência da temperatura da superfície do Oceano Atlântico Equatorial estar mais elevada que o normal. Essa combinação faz com que haja chuvas acima da média na região”.
Segundo ela, as chuvas devem continuar mais fortes nos próximos meses e isso pode resultar no aumento dos rios. “Os modelos globais de temperatura da superfície do mar, indicam que este padrão permanecerá favorecendo a chuvas da região. Então, podemos esperar chuvas acima da média histórica em grande parte do estado”.
Previsões de chuvas acima do normal na Bacia do Rio Tapajós e Amazonas, para os meses de fevereiro e março preocupam. “É esperado que o rio Tapajós, na região de Santarém atinja sua cota de alerta antes do período considerado normal”.
Decreto
Com o decreto de situação de emergência, o governo do Pará espera subsidiar as cidades com a liberação de recursos. Confira a lista:
Região do Araguaia
- Pau D’Arco;
- Santana do Araguaia;
- Tucumã;
- São João do Araguaia;
- Bom Jesus do Tocantins
Região do Carajás
- Marabá;
- São Geraldo do Araguaia;
- Parauapebas;
Região do Tapajós
- Aveiro;
- Rurópolis;
- Trairão;
- Novo Progresso;
Região do Baixo Amazonas
- Juriti;
- Oriximiná;
- Santarém;
- Óbidos;
Região do Lago de Tucuruí
- Itupiranga
Amazonas
Em Manaus, houve um forte temporal na manhã desta terça-feira (18). A enxurrada causou estragos às famílias. No bairro Cidade Nova, Zona Morte de Manaus, devido ao grande volume de chuva, a água invadiu casas. A segunda-feira foi de clima de tensão. Depois de uma forte chuva, na mesma região, uma menina de sete anos e uma mulher de 37 morreram.
A casa da criança foi atingida por um deslizamento de terra. Assustada, se escondeu debaixo da cama e foi soterrada. Mesma causa da morte da mulher que vivia no bairro Cidade Nova, que teve a casa.
Tocantins
Em Tocantins, o número de atingidos pelas enchentes já ultrapassa mais 3 mil pessoas, que estão desalojadas ou desabrigadas. Ao todo 32 municípios seguem sendo monitorados, mas os mais impactados são Formoso do Araguaia, Rio dos Bois, Pedro Afonso, São Miguel e Araguanã. Em todo estado, 265 pessoas continuam desabrigadas e 2.788, desalojadas, abrigadas em casas de parentes, amigos ou vizinhos.
Em Araguanã, o rio Lontra está 7 metros acima do normal. Chuvas mais intensas em Tocantins começaram a ser registradas a partir do fim de dezembro.