Vítima estava acampada de forma provisória junto com mais outros 30 Yanomami
Ana Yanomami Xexana, mãe de um bebê, foi atingida por um tiro na cabeça deflagrado por dois homens em um bicicleta que atiraram contra o acampamento improvisado dos indígenas em Boa Vista, capital de Roraima. Ela morreu no local.
O assassinato aconteceu na última sexta-feira (11), na avenida Venezuela, próximo à feira do produtor, no bairro São Vicente, zona Sul de Boa Vista. Nesta segunda-feira (14), o Conselho Indígena de Roraima (CIR) cobrou que autoridades locais investiguem o assassinato.
No documento, o Conselho descreve o assassinato da indígena da comunidade de Xexena como “covarde” e relembra que mais dois indígenas ficaram feridos no ataque. O boletim de ocorrência, no entanto, não cita uma terceira vítima.
Em um ofício, encaminhado à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e para o Grupo de Atuação Especial de Minorias e Direitos Humanos (GAEMI-DH) do Ministério Público Federal (MPF), o Conselho questionou quem mandou matar a indígena, cobrou providências além de investigação urgente no caso.
A vítima Ana Yanomami estava acampada de forma provisória junto com mais outros 30 Yanomami onde sofreu o ataque. Outros dois indígenas também foram feridos a tiros, conforme o ofício.
“Os assassinos tiraram a Vida de Ana Yanomami, mãe e filha, deixando um bebê e sua família desamparada. A morte de Ana, derrama o sangue de todos os povos Indígenas. Por isso, cabe aos órgãos apurar e punir quem mandou matar Ana Yanomami”, finaliza o oficio.
A Hutukara Associação Yanomami (HAY) também publicou um ofício pedindo providências e investigação do caso. No documento, a associação descreve a morte da indígena como “assassinato a sangue frio”.
“As autoridades precisam investigar com diligência os responsáveis pelos ataques e o que os motivou. A disposição em assassinar indígenas de passagem pela cidade, reunidos pacificamente em local público, configura crime de ódio e deve ser investigado como tal”, destaca a Hutukara.
A associação também relembra que a presença de indígenas na capital de Roraima gera comentários preconceituosos e ataques em toda a cidade. Os ataques, de acordo com a Hutukara, “alimentam a discriminação contra os indígenas em razão de suas particularidades culturais e modos de vida”.
"A disposição em assassinar indígenas de passagem pela cidade, reunidos pacificamente em local público, configura crime de ódio e deve ser investigado como tal”, disse a nota da Hutukara Associação Yanomami (HAY), divulgada pelas lideranças @Dario_Kopenawa e @MYekwana. 👇🏾 pic.twitter.com/FoHZC7hVST
— socioambiental (@socioambiental) November 16, 2022
A Urihi Associação Yanomami publicou no domingo (13) uma nota de repúdio sobre o caso. A associação, além de lamentar a morte da indígena, fala em “brutalidade” no assassinato e atribui o caso a um fruto do “preconceito estrutural da sociedade” contra indígenas.
“As instituições devem cumprir o seu papel legal e constitucional, pois o cenário é grave e demanda uma atuação coordenada e integral da Funai, Polícia Federal e Polícia Civil, a fim de encontrar os responsáveis e punir pelo crime de ódio contra os Yanomami que estavam acampados no local de forma pacifica”.
NOTA DA URIHI ASSOCIAÇÃO YANOMAMI ATAQUE A YANOMAMI NA CIDADE DE BOA VISTA/RR pic.twitter.com/JskPi2tVZt
— Júnior Hekurari Yanomami (@JYanomami) November 14, 2022
Investigação
A Polícia Militar que atendeu o caso registrou o homicídio no 3º Distrito Policial para investigação da Polícia Civil.
Segundo a PM, duas pessoas em uma bicicleta efetuaram vários disparos em direção às vítimas e fugiram. No local, foram encontradas cápsulas de calibre 9 milímetros. “Quando a PM chegou ao local, uma equipe de resgate prestava os primeiros atendimentos ao homem, enquanto a mulher indígena foi encontrada no chão, aparentemente sem vida”.
Em nota, a Polícia Civil, informou que o assassinato e a tentativa de homicídio “estão sob investigação para identificação da autoria e motivação dos crimes”.
“A Polícia Civil ressalta que qualquer pessoa que tenha informações sobre os crimes pode entrar em contato com a Delegacia-Geral de Homicídios através do número (95) 98413-3216. É garantido o sigilo absoluto da sua identidade”, completou.
A segunda vítima foi encaminhada para o Pronto Socorro Francisco Elesbão, no Hospital Geral de Roraima e não corria risco de morte. Não há informações sobre o estado de saúde da terceira vítima.
Violência contra indígenas
O grupo que foi alvo de ataques é originário da região do Ajarani, região onde as comunidades Yanomami foram mais duramente atingidas pelo impacto da abertura da estrada Perimetral Norte.
Conselho Indígena de Roraima (CIR) denuncia que o trágico contato forçado do grupo com o projeto de infraestrutura, posteriormente interrompido, levou à morte de parcela significativa da população destas comunidades e à desestruturação da comunidade e de seus mecanismos de controle social.
Como medida emergencial, o CIR articulou suporte para o retorno dos mais de 30 indígenas Yanomami, que estavam acampados de forma provisória no local em que Ana foi assassinada, a sua comunidade com apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e parceiros.
A Survival Brasil também denunciou o assassinato em suas redes e classificou como inaceitável mais este crime de ódio contra os indígenas Yanomamis.
Os indígenas atacados são de Ajarani, uma região da Terra Indígena Yanomami onde o contato forçado dizimou comunidades inteiras. Como medida de reparação, a @funaioficial e autoridades criaram postos na região, mas a Hutukara questiona se essas medidas estão sendo aplicadas.
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— Survival Brasil (@SurvivalBrasil) November 14, 2022
Com informações do G1
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