Há 30 anos havia hipótese do Sul da Amazônia se tornar “savana tropical”, com aspecto do Cerrado (Rodrigo Fernandes)

 

A destruição da floresta avança e os riscos de metade da Amazônia virar uma savana tropical só aumentam. O alerta é do climatologista e pesquisador da região, Carlos Nobre.

Segundo ele, a Amazônia já dá sinais de exaustão, principalmente, na porção Sul, que passa pelo Acre, Rondônia e Sul do Pará. Além do período de estiagem chegar mais cedo, estudos indicam que houve um aumento da mortalidade de árvores do clima amazônico úmido e a floresta está reciclando menos água nessa região.

Segundo o pesquisador, antes, as grandes secas ocorriam na Amazônia a cada 25 anos. Agora chegamos a ter três em 15 anos e os efeitos desse fenômeno se prolongam por anos.

O estudo da pesquisadora do Inpe, Luciana Gatti reforça o que há 30 anos, era uma hipótese: parte da floresta já não está mais absorvendo gás carbônico. “O ponto de inflexão é aqui, é agora”.

No início dos anos 1990 ele trabalhou em estudos científicos que eram projeções teóricas sobre o desmatamento da Amazônia. Segundo ele, é preciso garantir que ele seja zerado até 2030.

“Falávamos que, se desmatássemos o sul dela, ela se tornaria uma ‘savana tropical’, que basicamente é o nome que nós damos para o Cerrado. Uma floresta que tem 30% só de cobertura de árvores, 70% são pequenas vegetações”.

As mudanças climáticas associadas ao aquecimento global, além de aumentar a temperatura, que na Amazônia já subiu 1,5° C, “cria condições de secas extremas, como houve em anos anteriores”, disse ele em entrevista exclusiva ao jornal O Vale.

“Temos também os desmatamentos e as queimadas que consomem a floresta. Os estudos mostraram que se continuássemos nesse ritmo, passaríamos de um ponto de não retorno, com a savanização da floresta, com 50% da Amazônia se tornando uma savana”.

Ele explica que se o desmatamento passar de 20% a 25% de toda a floresta amazônica, somado ao aquecimento global, a Amazônia chegará a um ponto de não retorno.

“E estamos perto disso hoje. Tem cerca de 17% de área desmatada na Amazônia. Pelos nossos cálculos, qualquer coisa entre 15 e 30 anos e passaríamos desse ponto de não retorno, com a savanização da Amazônia. Mais de 50% se tornará uma savana degradada. Há cientistas que acham que já passamos desse ponto de não retorno. É uma situação muito preocupante”.

Principalmente, por que há uma política ambiental em curso de incentivo do desmatamento, seja para abertura de pasto, seja para a prática do garimpo e ou ainda, para a extração ilegal de madeira.

“A falta de implementação da fiscalização e os discursos políticos, inclusive os do presidente da República e do ex-ministro no Meio Ambiente [Ricardo Salles] e de outros políticos, vão na direção de fazer a floresta desaparecer”.

Para ele, o Brasil é um dos mais prejudicados do mundo pela falta de preservação ambiental e proteção da floresta amazônica.