Placa com tiros revela como ameaças de invasores são uma constante no território localizado em Rondônia (Acervo Kanindé)

 

Levantamento mais recente do Instituto Socioambiental (ISA), mostra que o desmatamento segue avançando por terras indígenas com a presença de povos isolados. O monitoramento de 15 TIs revela que os Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, são os mais prejudicados. A TI aparece novamente como a mais invadida. Em apenas 30 dias, foram desmatados 57,6 hectares. Levando em consideração que haviam sido identificados 27,5 hectares desmatados no mês anterior no interior, houve um aumento de 111% em comparação com maio.

As invasões acontecem para a ocupação fundiária irregular, destinada à retirada de recursos naturais como madeira e minerais. Com isso, a terra indígena tem ao menos 15 mil hectares ao norte, entre os rios Nova Floresta e Jamari, destruídos pelo desmatamento e invadidos por fazendas.

A segunda área que mais sofreu com o desmatamento ilegal foi a terra indígena Araribóia, no Maranhão, com duas invasões identificadas nas margens do território, e por último um novo desmatamento na TI Piripkura, com 122 hectares desmatados a menos de um metro do limite da TI. Ao total foram desmatados 60 hectares dentro dos territórios monitorados, o que significa um aumento de 22% em relação ao mês anterior.

Segundo análise do ISA, com base em imagens de alta resolução do satélite Planet, invasores estão desmatando às margens do território. “O estímulo para legalizar essas áreas faz com que cada vez mais os invasores afrontem a lei e pressionem os povos indígenas com outras invasões”.

A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau foi declarada em 1985 e homologada em 1991, compreende parte do território dos povos Uru-Eu-Wau-Wau ou jupaú, e dos povos amondawa, linguisticamente muito próximos dos Jupaú (falantes de línguas kagwahiva, da família tupi-guarani) e dos Oro Win (da família linguística Txapakura). Nesse território também vivem ao menos outros três grupos indígenas que permanecem isolados.

Os povos kagwahiva do oeste de Rondônia foram contatados oficialmente ao longo dos anos 1980, em um processo que envolveu doenças e conflitos. Os Jupaú começaram a ser atraídos pela Funai em 1981 depois de um longo histórico de conflitos com seringueiros e as frentes econômicas que adentravam seu território. O contato com esse grupo foi gradual, Jupaú informa que existem outros três grupos ainda hoje não contatados, que vivem na região do rio Muqui, Cautário e S. João do Branco.

Segundo os Jupaú contactados, existiam várias aldeias ainda sem contato, onde se calculavam aproximadamente de 1000 a 1200 pessoas no interior da Terra Indígena. Em 1986 os Amondawa procuraram um posto indígena da Funai depois que uma epidemia de gripe e pneumonia que flagelou esse povo naquela época. Desde então, a área que ainda abriga grupos que não foram contatados, sofre com sucessivas invasões, tanto para ocupação fundiária irregular, como para retirada de recursos naturais, como madeira e minerais.

Os esquemas de grilagem, em geral, são acompanhados de degradação ambiental. A sobreposição da TI com o Parque Nacional de Pacaás Novos não tem trazido segurança territorial suficiente para impedir que novas invasões aconteçam. Como saldo da pilhagem e dos conflitos fundiários mal resolvidos, a Terra Indígena Uru-EuWau-Wau tem ao menos 15 mil hectares ao norte da TI, entre os rios Nova Floresta e Jamari, com presença intensa de fazendas e ação constante de desmatadores.

Piripkuras

Nem a operação de fiscalização realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no mês de junho colocou fim no desmatamento na Terra Indígena Piripkura, em Mato Grosso. Desde janeiro de 2021 já se registaram ao menos 2.132 hectares desmatados, o equivalente a 2 mil campos de futebol.

Contudo, em julho o monitoramento do ISA identificou novamente uma área sendo invadida, onde 122 hectares foram desmatados em menos de 40 dias, indicando provável uso de maquinário pesado, ou a utilização da técnica do ‘correntão’, que extraí madeira em grande quantidade com a ajuda de correntes presas em um trator. A área desmatada fica a 500 metros do limite da TI na direção norte, o que representa um vetor de pressão para a TI. Nessa mesma região, uma área de 6,2 hectares já havia sido detectada no mês anterior, dando indícios de uma nova frente de destruição muito próxima aos limites da TI.

 

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