Empresas de grande porte e entidades setoriais representativas cobram uma reação do governo federal, que até o momento não apresentou qualquer planejamento ou metas no sentido de implementar uma economia de baixo carbono.
Veja só, empresas como a Amaggi, JBS e Cargill Agrícola também assinam a carta titulada “Empresários pelo Clima” que será apresentada ao governo brasileiro e levada pelo setor à próxima Conferência sobre o Clima, a COP 26, que será em novembro, na cidade escocesa, Glasgow.
Eles declaram que estão assumindo um compromisso, em resposta a um chamado expresso no Acordo de Paris, que, em 2015, conferiu ao setor produtivo protagonismo na defesa contra o agravamento e os efeitos das mudanças climáticas, em parceria com a sociedade civil e governos. E cobram uma postura do governo de Bolsonaro.
“Devemos desenvolver um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória dentro de um compromisso firme com ações eficazes para a preservação do meio ambiente e o cumprimento das metas de combate ao desmatamento ilegal. Essa é uma oportunidade única do Brasil ser competitivo e melhorarmos as condições de vida da população, alinhados com as novas prioridades em torno das quais o mundo está se movimentando”, diz trecho do documento.
Eles também realçam que uma transição em regime de urgência para o baixo carbono é possível e desejada pelo setor produtivo brasileiro e cobraram um reposicionamento brasileiro. “Objetivos climáticos ambiciosos correspondem à nossa convicção de que o Brasil deve buscar o protagonismo nas negociações de clima”.
O agronegócio nunca foi um defensor do Meio Ambiente, e empresas que assinam esta carta financiam queimadas, o que demonstra a incompetência na gestão ambiental do governo Bolsonaro, que permite uma destruição tão descarada, com recordes de desmatamento e queimadas, que até quem financia estes crimes pede que o governo aja para impedi-los – ou ao menos diminui-los – e siga o Acordo de Paris, o qual o Brasil aderiu em 2015.
Confira o documento na íntegra:
“O mundo precisa, com urgência, caminhar para uma economia de baixo carbono e o setor empresarial no Brasil reconhece sua responsabilidade nessa transformação. Sobre as bases do compromisso, da ciência e da inovação, as empresas estão respondendo ao chamado expresso no Acordo de Paris, que, em 2015, conferiu ao setor produtivo protagonismo na defesa contra o agravamento e os efeitos das mudanças climáticas, em parceria com a sociedade civil e governos.
O Brasil tem vantagens comparativas extraordinárias na corrida para alcançarmos uma economia de emissões líquidas de carbono neutras, valendo-nos dos nossos múltiplos recursos naturais e da capacidade de nosso povo. Para isso, devemos desenvolver um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória dentro de um compromisso firme com ações eficazes para a preservação do meio ambiente e o cumprimento das metas de combate ao desmatamento ilegal. Essa é uma oportunidade única do Brasil ser competitivo e melhorarmos as condições de vida da população, alinhados com as novas prioridades em torno das quais o mundo está se movimentando.
É possível trazer escala à inovação e às boas práticas e planejar estrategicamente para que o Brasil realize rapidamente o seu potencial de crescimento sustentável e alinhado com os objetivos de combater a mudança climática e proteger a biodiversidade. O setor empresarial brasileiro está engajado na recuperação do país dos efeitos da Covid-19, promovendo uma retomada verde (green recovery) fundada em bases de economia circular, de baixo carbono e de inclusão. Os CEOs signatários deste documento têm assumido posições e trabalhado por esse avanço em todo o país.
Às vésperas da COP de Glasgow, o momento é de ação, com vistas a evitar o aquecimento global para além de 1,5º C em relação ao período pré-industrial. Por isso, as empresas no Brasil já vêm adotando medidas para a redução e compensação das emissões de gases causadores do efeito de estufa (GEE), precificação interna de carbono, descarbonização das operações e cadeias de valor, investimentos em tecnologias verdes e estabelecimento de metas corporativas ambiciosas de neutralidade climática até 2050.
Uma transição célere para o baixo carbono é possível e desejada pelo setor produtivo brasileiro. Segundo estudo recente, apoiado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), é possível reduzirmos as emissões de GEE em até 42% no Brasil já em 2025, em relação aos níveis de 2005.
Para atingirmos essa meta, são importantes os avanços representados pelo RenovaBio, nossa recém-aprovada política de pagamento por serviços ambientais – PSA, futuro mercado regulado de carbono no Brasil, bem como o esforço para o reconhecimento global da experiência e contribuição brasileiras para a mitigação das emissões líquidas de gases do efeito estufa, inclusive com soluções baseadas na natureza. Assim, consideramos crucial o aprofundamento da discussão entre o setor privado, a sociedade civil e o governo brasileiro sobre a posição brasileira em relação ao Artigo 6° do Acordo de Paris.
Objetivos climáticos ambiciosos correspondem à nossa convicção de que o Brasil deve buscar o protagonismo nas negociações de clima. Esse é o papel compatível com a nossa tradição de integridade climática, presente na decisão do país em assumir uma contribuição nacionalmente determinada (NDC) para o combate à mudança climática relevante e não condicionada, e de construção de consensos internacionais que tem caracterizado nosso país. O Brasil deve manter a sua centralidade nesse diálogo, sob pena do enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira.
Acreditamos que as discussões dos mecanismos de apoio ao objetivo de carbono neutro previstos no Acordo de Paris, a serem conduzidas em Glasgow, são uma oportunidade de estimular a economia mundial, abrindo fronteiras e alinhando esforços, para a inclusão dos países de todos os níveis de renda, com estímulo à inovação e atenção à integridade no combate ao aquecimento global.
Para dar concretude aos esforços na direção de uma economia de carbono neutro, apoiamos a aderência a metas baseadas em conceitos científicos (Science Based Targets) e práticas de transparência financeira (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures), com a adoção de mecanismos de financiamento para a promoção da transição climática e o combate integral e inequívoco ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica e de outros biomas brasileiros.
É preciso, ainda, a adoção de regras que possibilitem o desenvolvimento de mercados de carbono voluntário e regulado no Brasil – com práticas de transparência na contabilização das emissões e sua conexão com mercados mundiais, assegurando a qualidade ambiental e integridade dos créditos de carbono a serem comercializados e cooperando para a criação de um mercado de carbono global no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC).
Devemos construir uma trajetória orientada para um futuro de claros objetivos climáticos, sob pena de sermos excluídos de uma nova ordem climático-econômica que se consolida diante dos nossos olhos, o que seria injustificável para um país como o Brasil.
O setor empresarial brasileiro convida, portanto, toda a sociedade e atores políticos que apoiem o engajamento do Brasil nessa nova realidade global de economia climática, por meio da retomada verde da economia e da participação ativa na Conferência de Glasgow e em seus preparativos. Assim poderemos reafirmar nossa inserção internacional e construir um melhor legado ambiental, social e econômico, com menos desigualdades e melhores condições de vida, para essa e as próximas gerações”.
Assinam o documento as empresas:
2W Energia; Abralatas; Accenture; AES Brasil; Alcoa Alumínio; Amaggi; Amazon; Ambipar; Apple; Approach Comunicação; Arcadis; B3; Bain & Company; Banco BV; Bayer Brasil; BMA Advogados; BMG Seguros; BNP Paribas; Bosch; BP Brasil; Bradesco; Braskem; BRF; BRK Ambiental; Brookfield; BSBIOS; Camargo Corrêa Infra; Cargill Agrícola S.A.; Carrefour Brasil; CBA; Ceptis Soluções; Chevron Brasil; Chubb Brasil; Cosan; Daemon Investimentos; Deloitte Brasil; Dow; DSM; Ecolab; Egis; Embraer; Energisa; Eneva; Engie Brasil; Equinor Brasil; ERM Brasil; EY Brasil; FS Bioenergia; Grupo Natura & Co.; Grupo Sabará; Grupo Ultra; Grupo Vamos; Hewlett Packard Enterprise; Hitachi ABB Power Grids; HP Brasil; I Care & Consult; IBM; Ipiranga; JBS; JSL; Klabin; Korin Agropecuária; Kroll; LDC; Lexmark; Lojas Renner; Lwart; Makro Group; Marfrig; Mars Petcare; Mastercard; Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados; Michelin; Movida; Nestlé Brasil; Nexa Resources; Nidec Global Appliance; Norflor; NotreDame; P&G; PwC Brasil; Queiroz Galvão; SAP Brasil; Schneider Electric Brasil; Shell Brasil; Siemens Energy Brasil; Siemens Infraestrutura e Indústria; Simpar; Sky Brasil; Socicam; SPIC Brasil; Struttura Desenvolvimento e Financiamento de Projetos e WF Consultores Associados; Suzano; TechnipFMC; Telefônica Brasil; Thyssenkrupp; TicketLog; Tozzini Freire Advogados; UBS BB; Vedacit; Vivara; Votorantim Cimentos; Votorantim S.A.; Way Carbon; WestRock; Yara Brasil Fertilizantes; Zurich Minas Brasil Seguros.
E ainda, entidades setoriais:
Abag (Associação Brasileira do Agronegócio); Abal (Associação Brasileira do Alumínio); Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base); Abimaq/Sindimaq (Associação Brasileira e Sindicato Nacional da Indústria de Máquinas e Equipamentos); Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio no Brasil); CDP; Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais); ICC Brasil; Instituto Urbem; IPGC (Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades).