Foto: Felipe Beltrame / Brigada NINJA Amazônia

COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira e CNS – Conselho Nacional das Populações Extrativistas após o Encontro Amazônico da Sociobiodiversidade decidiram, entendendo a urgência do momento, escrever uma carta para políticos e empresários que estão em Glasgow, participando da COP26 – Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas para que respeitem os povos tradicionais e originários, que reafirmam suas proposições e defesa da natureza.

CARTA POLÍTICA ENCONTRO AMAZÔNICO DA SOCIOBIODIVERSIDADE
Aos participantes da COP 26.

Não podia ser mais estratégico para Povos Indígenas, Populações e Comunidades Tradicionais brasileiras, reafirmarem a defesa da sociobiodiversidade amazônica, neste momento quando o mundo volta a debater à crise climática na COP 26. Uma crise que atinge em todos os contextos os viventes da terra. As sociedades e os movimentos sociais mundiais conhecem muito bem quem são os governos e os agentes econômicos responsáveis pela crise ambiental no planeta. Mas, no Brasil há um processo político de pressão socioambiental que busca transferir à Povos Indígenas, Populações e Comunidades Tradicionais o problema causado pela mudança do clima.

O Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) reuniram Povos Indígenas, Populações e Comunidades Tradicionais, em Belém do Pará no Encontro Amazônico da Sociobiodiversidade, um Encontro de contraposição ao Fórum Mundial da Bioeconomia, que foi sediado pelo Governo do Estado do Pará em Belém, no mesmo período. O Encontro Amazônico da Sociobiodiversidade reafirma, com a representação de 30% dos territórios protegidos e a participação de Povos Indígenas, Populações e Comunidades Tradicionais da Amazônia, Cerrado e da Costa brasileira, o compromisso a defesa de “uma economia capaz de conviver com a floresta, garantir direitos e distribuir renda de forma justa” e propôs alternativas produtivas, ambientais, econômicas e orientou politicamente os movimentos socioambientais para resistir ao modelo hegemônico que avança em escala regional, nacional e internacional, por meio do uso da economia da destruição ambiental, movida pelas empresas transnacionais, governos nacionais e subnacionais.

Nossos territórios protegidos e direitos respeitados são as proposições dos movimentos sociais ambientais brasileiros. Não compactuamos com qualquer tentativa e estratégia baseada na lógica do mercado, com empresas que apõem legislações ambientais que ameacem os direitos dos Povos Indígenas, Populações e Comunidades Tradicionais e mecanismos de financiamento que não condizem com nossa realidade nos territórios protegidos. Propomos o que temos de melhor: nossa construção social e cultura histórica como caminho socialmente construído com base em nossos saberes tradicionais ancestrais e a ciência do conhecimento da natureza.

A sociobioeconomia que defendemos está pautada com a ciência e a tecnologia para melhorar a coleta dos produtos florestais e da pesca, que nos permitam processar, armazenar e comercializar os produtos da sociobiodiversidade dentro da realidade dos nossos modos de vida. Somos contra processos de inovação que resulta em pacotes tecnológicos e sistemas de produção de altos insumos difundidos para substituir a floresta nativa com monocultivo de variedades geneticamente uniformes, para atender a indústria de alimentos e depois serem propagados como sistemas ambientalmente adequados. Inovação para nós, não pode ser processos que venham ameaçar nossos territórios, a cultura de viver e produzir de Povos Indígenas, Populações e Comunidades Tradicionais.

Diante desta ameaçadora realidade brasileira, nós Povos Indígenas, Populações e Comunidades Tradicionais, reunidas no Encontro Amazônico da Sociobiodiversidade reafirmamos nossas proposições às autoridades governamentais mundiais e setor empresarial participantes da COP-26, do nosso papel de protetores do patrimônio natural brasileiro, da luta histórica da Aliança dos Povos da Floresta, nascida na Eco 92, que se mantem forte hoje e muito mais comprometida com os desafios atuais, muitos dos quais já enfrentados no passado, por meio da luta social, da luta política e da solidariedade ambiental com a vida e a natureza.