O ano de 2021 findou com mais evidências de que ações de contenção e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas precisam pautar a agenda política. As fortes chuvas que assolaram o Sul e Sudoeste da Bahia nos meses de novembro e dezembro deixaram milhares de desabrigados e causaram dezenas de mortes, são uma mostra da necessidade de planejamento dos governos, em todas as esferas, frente à frequência e intensidade cada vez maior de eventos climáticos extremos.
As enchentes, por exemplo, além de destruírem casas, trazerem prejuízos ao comércio, danificam estruturas de distribuição de água, tratamento de esgoto e redes de energia elétrica, além de demandarem maior capacidade de atendimento de saúde. Ao todo, 165 municípios estão com decreto de situação de emergência. Número de mortes segue 26 e no total, 850.424 pessoas foram afetadas pelo temporal que atingiu o estado em dezembro. E o Instituto Nacional de Meteorologia divulgou novo alerta de chuvas intensas e possibilidade de alagamentos para algumas regiões do estado. O alerta se estende a outros estados, ao menos 12. Entre eles estão Minas Gerais, Tocantins e o nordeste do Pará.
Temporais como estes, que vêm impactando a vida dos brasileiros podem se tornar ainda mais recorrentes no futuro. Isto ocorre porque o aumento de temperatura e a precipitação anual têm se modificado nos últimos anos; evidenciando uma variabilidade do clima, com destaque para o aumento na intensidade das chuvas diárias. Apesar da chuva de dezembro ser um fenômeno comum para essa época do ano, o que aconteceu em dezembro deste ano na Bahia pode ser considerado atípico e extremo, resultando na devastação de inúmeros municípios e na perda de vida.
Para especialistas, há pelo menos três fatores que podem ser associados à alta intensidade das chuvas recentes na Bahia: La Niña, depressão subtropical e o aquecimento global. A La Niña no Brasil significa: chuvas fortes e em grande quantidade, aumentando o fluxo dos rios e inundações subsequentes no Norte e no Nordeste do Brasil. Segundo o climatologista Hagi, o que está acontecendo soa o alarmante pois, gera um período de chuvas elevadas e com todas as consequências socioeconômicas que estão ligadas, desde alagamentos a perdas de vidas humanas”.
Além disso, há uma ligação direta entre a depressão subtropical na região, isto é, um evento meteorológico que gira no sentido horário e é marcado pela formação de nuvens, ventos, tempestades e agitação marítima. Em alguns casos, evoluindo para uma tempestade tropical. A questão também gira em torno das mudanças na circulação geral da atmosfera, que sugerem que a baixa pressão fez com que o oceano torna-se mais quente na costa do Brasil, levando à depressão subtropical.
Isso demonstra que a emergência climática pode ter contribuído para o evento, visto que a ocorrência de eventos extremos como este seja consistente com o que se espera para um futuro mais quente.
A realidade é devastadora na região sul da Bahia e podemos enxergar um link entre os eventos atípicos, os impactos climáticos e a vulnerabilidade das populações que foram atingidas – em sua maioria pessoas que vivem na zona rural, as populações tradicionais e das periferias.
A sociedade como um todo resiste ao problema, porém, eventos climáticos extremos, como as chuvas fortes (deslizamentos de terra) é um alerta para enfrentarmos o declínio do ambiente e conceder maior proteção das pessoas que sofrem os seus impactos. Como cidadãos, elas mantêm todos os seus direitos e devem ser protegidos pelo Estado.
Diante dos fatos, cabe aos gestores deste país encarar essa realidade com muita responsabilidade e, sugira ações e medidas eficazes para combatê-la, capacitando a sociedade como um todo para conviver com essa nova realidade imposta pelas mudanças climáticas globais, dotando as populações regionais, independentemente de nível social e econômico, de instrumentos eficazes para convivência com as transformações em decorrência das mudanças climáticas futuras.
Enquanto isso, COP tem muito a avançar…
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas publicou quatro relatórios a respeito da temática ambiental e este ano também foi o ano da Conferência Mundial sobre o Clima, a COP26. E a pressão é grande para a COP27, que ocorrerá no Egito.
A conferência mostrou sua cara, com as discrepâncias globais e os resultados insatisfatórios dos países de conterem a emergência climática. Ao menos, houve uma ininterrupta colaboração da sociedade civil que mostrou que os países menos desenvolvidos e comunidades em situação de vulnerabilidade apesar de serem as mais impactadas, tiveram uma participação importante com foco na construção coletiva de estratégias de resistência.
Neste caso, camponeses, negros e indígenas, assim como pessoas que sofrem por questões socioeconômicas e de gênero, sentem uma falta de proteção do Estado perante aos acontecimentos decorrente da anormalidade do clima. Em certas regiões, podemos sentir que a variabilidade e a mudança do clima afetam a relação entre homem-meio.