O povo Ashaninka da aldeia Apiwtxa, na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, está lançando uma chamada de apoio às comunidades indígenas e não indígenas de Marechal Thaumaturgo, no Alto Rio Juruá, Acre. A campanha será lançada pelas lideranças Ashaninka em uma Live no dia 2 de julho, às 14h (horário de Brasília), com mediação do ator e ativista ambiental Marcos Palmeira.

O objetivo é arrecadar recursos para a compra de kits de suporte para as famílias moradoras da floresta para ajudá-las neste período da pandemia da Covid-19 e fortalecer suas atividades de subsistência.

Diante da incerteza da duração da pandemia e seus impactos, serão distribuídos kits que trazem não só alimentos para consumo imediato, mas também equipamentos e produtos essenciais para que os moradores da floresta fortaleçam sua produção local, como ferramentas de plantio e materiais de pesca. Desta forma, as comunidades beneficiadas poderão alcançar uma forma de vida sustentável, permitindo que se protejam em situações desafiadoras atuais e futuras. A entrega dos kits também evitará a exposição das famílias ao vírus em viagens à sede da cidade de Marechal Thaumaturgo.

As doações podem ser feitas pelo site www.ashaninka.fund.

O povo Ashaninka do rio Amônia reforça a importância da união neste momento. O líder Ashaninka e presidente da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj), Francisco Piyãko explica: “Quanto mais unidos estivermos, mais felizes seremos. Precisamos trabalhar como uma comunidade e não por interesse pessoal. Se não fosse pela nossa organização [Apiwtxa], nós não teríamos nada hoje. Aqui somos fortes. Aqui todos estão protegidos”.

Benki Piyãko, liderança Ashaninka, fundador e presidente do Instituto Yorenka Tasorentsi, também comenta: “Acreditamos que nós vamos vencer essa batalha levando, em primeiro lugar, a conscientização. Essa é uma das coisas mais importantes que nós temos que fazer neste momento, nos conscientizar, porque essa doença não vai acabar de uma hora para outra. Nós vamos trabalhar para que possamos, cada vez mais, nos defender e também orientar a todos a se defenderem. Quero aqui convidar todas as pessoas a nos assistir no dia 2 de julho, dia de lançamento da nossa campanha, feita com os meus irmãos. Pela primeira vez, vamos mandar uma mensagem juntos, online, para o mundo. Vamos despertar o coração de todas as pessoas que também se sentem interessadas em ajudar os povos desta região.”

Marechal Thaumaturgo é um município do Estado do Acre localizado no meio da floresta, na fronteira do Brasil com o Peru. Lá vivem aproximadamente 18 mil pessoas, entre elas indígenas e não indígenas. Os povos indígenas que vivem em Marechal Thaumaturgo são os Kuntanawa, os Huni Kuin (também conhecidos como Kashinawa), os Jaminawa, os Ashaninka e os Apolima-Arara. Além das terras indígenas, o município também abriga a Reserva Extrativista do Alto Juruá e parte do Parque da Serra do Divisor.

Devido à distância dos centros urbanos, a população vive, em sua maioria, do que a floresta produz e se encontra ameaçada pelo vírus covid-19.

O município já tem mais de 150 casos confirmados e possui apenas um médico e nenhuma estrutura hospitalar adequada, sem equipamento para o tratamento dos pacientes mais graves.O hospital mais próximo para atendimento de pacientes com covid-19 se encontra em Cruzeiro do Sul, a muitas horas de viagem do município e já está operando em sua capacidade máxima. Justamente para ajudar a população de Marechal Thaumaturgo a combater a propagação do vírus e fortalecer seu auto sustento, os Ashaninka da Apiwtxa decidiram criar esta campanha, contando com o apoio de vários parceiros regionais, nacionais e internacionais.

Benki Piyãko conclui: “Esperamos que através do Instituto Yorenka Tasorentsi e da organização Apiwtxa, possamos abrir canais importantes de defesa ao direito e proteções desses territórios, desses povos que hoje ainda permanecem vivos. Uma das grandes preocupações que temos hoje é ver esses povos indígenas com essa doença matando as últimas das nossas bibliotecas vivas que existem, que são as pessoas mais velhas dos nossos territórios”.

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