A morte do soldado Jhonatha Correa Pantoja, de 18 anos, em um batalhão do Exército em Manaus, na madrugada da última segunda-feira (3), coloca sob suspeita o alto escalão do Comando Militar da Amazônia (CMA). Isso porque a família denuncia que o jovem morto com um tiro de fuzil foi vítima de tortura. Fotos em que a Mídia NINJA teve acesso mostram vários hematomas nas mãos, pernas e costas dilaceradas.

“Ele [Jhonatha] me mandava mensagens, dizendo que espancaram ele como forma de treinamento de resistência”, conta Aline Batista, tia de Jhonatha, e uma das primeiras a falar com jornalistas. Ela teme que suas denúncias não sejam ouvidas durante o inquérito militar instaurado pelo Comando da Amazônia. A tia também denuncia que as roupas do jovem foram entregues à família, menos o celular que continua em posse dos militares.

A família também foi notificada pelo comandante direto do jovem, de que ele havia cometido suicídio. Horas depois o comandante negou que havia mandado a mensagem e pediu para desconsiderá-la.

Em nota, Comando Militar da Amazônia (CMA) informou que, “após ouvido um disparo, o plano de defesa do aquartelamento do 7° Batalhão de Polícia do Exército foi acionado. O Soldado Jhonatha foi encontrado caído com o seu fuzil, o qual foi recolhido para a perícia do armamento”.

O velório do jovem levou centenas de pessoas às ruas de Borba, nessa terça-feira (4). Os moradores da cidade distante 145 quilômetros de Manaus acompanharam o cortejo até o cemitério São Francisco de Assis em motos, de carro e a pé munidos de cartazes e soaram gritos de pedido de Justiça.

Jhonatha servia há cerca de seis meses no Batalhão de Polícia do Exército, e veio de Borba a Manaus. Morava com familiares. “Ele era carinhoso. Nunca nos deu problema em nada. Estava realizando o sonho dele”, explicou Aline.

Até o momento, nenhum militar do Exército em Manaus foi denunciado por práticas de abuso pelo Ministério Público Militar, a principal instância capaz de conduzir um julgamento na Justiça Militar.

A família decidiu pedir uma Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Amazonas, para que deputados fiscalizem as sessões de ‘treinamento’ militar nos quartéis do Estado. A Ordem dos Advogados do Brasil também irá acompanhar o caso.