Por João Paulo Guimarães
São mais de 20 áreas de garimpo dentro da zona rural da cidade de Poconé. O município fica entre Cuiabá e o resto do Pantanal. Quem passa para chegar na transpantaneira passa antes por Poconé.
A cidade é uma das maiores produtoras de ouro para exportação do País, porém nada dessa fortuna incalculável volta para o erário público. Não há repasse fiscal. Nada dessa produção volta para o cidadão Poconiano.
Visitei 6 Garimpos e em alguns, precisei entrar escondido. Mas não se engane. Estas montanhas de rejeito, que parecem ser construções da natureza e de Deus, não estão escondidas. Alguns desses garimpos costumam abrir para o turismo para visitação.
Entre e faça selfies com a violência a que esses gigantes do capital ilícito submetem homens, mulheres, crianças, animais e o próprio solo e lençol freático de Poconé.
O número de casos de contaminação por mercúrio e, conseqüentemente, câncer, só não são maiores que os novos casos diários de Covid 19. Uma média de 600 novos casos por dia. Você acha estranho? Poconé não apareceu pintada de vermelho no mapa do Brasil que o Jornal Nacional mostra todas as noites com as cidades mais afetadas pela Pandemia? Nem vai aparecer.
Poconé não existe. A cidade quase é monocor. Preta e Branco. Sem vida. Fico imaginando criar minha filha em uma cidade dessas e a levando pra passear no único lugar da cidade com brinquedos e um parque pra as crianças brincarem. O Parque Temático do Garimpo de Poconé. Bizarro.
Existe um parque abandonado na cidade que enaltece a atividade do garimpo. Latas de lixo para reciclagem, patrocinadas pelo Sesc, demonstram o total apoio das instituições privadas, estaduais e federais assim como a Câmara dos vereadores, Prefeito e Governo do Estado. Mas é tudo legal.
O Plano diretor da Cidade, que delimita regras importantes como, pra onde cresce a cidade, assim como as regras de impostos e recolhimento fiscal, é da década de 80. Precisaria ser reformulado de 10 em 10 anos. Nunca mudou. Os garimpos, portanto, estão de acordo com a legislação constitucional assim como obedecem o Plano Diretor de Poconé de 40 anos.
Poconé também não tem analista ambiental. A instituição que dá a outorga dos garimpos é a Sema, que é quem deveria fazer o processo de licenciamento. A prefeitura não contrata o analista e por isso, passa pra o órgão. Essa informação não precisa de confirmação. Os Garimpos estão lá. Não são invisíveis. São gigantes, com suas crateras e rios de lama e mercúrio, seguros em represas como a de Brumadinho e Mariana.
O resultado disso é a contaminação por mercúrio e câncer da população. Teria como conseguir os dados no hospital municipal de Poconé, mas o garimpo financia o hospital. Compraram esse ano vinte macas novas, novos desfribiladores e outros equipamentos. O hospital é filantrópico. Por conta disso o garimpo tem renúncias fiscais.
Foram mais de Cinquenta Milhões em abatimento fiscal. Igual o agronegócio ou as madeireiras.
São políticos, fazendeiros e famosos, entre eles duplas sertanejas, que estão envolvidos na prática a qual, rapidamente, vem consumindo a cidade e seus moradores.
A solução para Poconé é simples. A cidade deixa de ser cidade e se torna área de garimpo. A população precisaria ser remanejada para Cuiabá ou áreas como Cáceres ou Mirassol.
Seria simples, porque para o negócio do Ouro, remanejar uma população inteira, sairia mais barato que pagar os impostos que trariam vida para Poconé.
A cidade respira com dificuldade. Está quase morta. Mas é uma morta que vale ouro.
*João Paulo Guimarães é fotógrafo e está acompanhando de perto os incêndios na Amazônia e no Pantanal.