A Amazônia está passando por taxas sem precedentes de degradação por desmatamento, incêndios e secas. Os efeitos coletivos e repetitivos desses distúrbios climáticos ameaçam mudar em dez anos uma das suas paisagens mais conhecidas: as praias de água doce de Alter do Chão, em Santarém, no Pará.
Cientistas alertam para o risco de savanização das áreas de florestas que mantém ecossistemas vivos às margens do rio Tapajós, uma das regiões mais sensíveis da floresta Amazônica.
O estudo “Reformulando a savanização tropical: ligando as mudanças na estrutura do dossel às alterações do balanço de energia que afetam o clima”, foi conduzido pela Universidade do Michigan, dos Estados Unidos, e também por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação Graduação em Recursos Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (PPGRNA-Ufopa), além da equipe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Universidade de São Paulo (USP) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Alter é um dos destinos mais procurados no google quando o assunto é imersão na floresta tropical do mundo. Durante a alta temporada, que ocorre nos meses de janeiro e junho, os hotéis ficam abarrotados. Entretanto, o risco do paraíso tropical se transformar em savana tropical é cada vez mais real e próximo, devido ao crescimento de ocorrências de incêndios e desmatamento.
Registrando as piores taxas do Pará, Alter do Chão lista no ranking das regiões com maiores registros de focos de calor entre junho e setembro deste ano, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Alter vive sob intensa pressão da especulação imobiliária, incentivada pela grilagem de terras. Em agosto de 2019, a região foi duramente atingida por chamas de incêndios criminosos, no que ficou conhecido como ‘Dia do Fogo’.
“Neste artigo de pontos de vista inovadores argumentamos que está na hora de começar a compreender melhor as consequências do equilíbrio energético da degradação florestal na Amazônia, para melhor compreender os efeitos climáticos e a sensibilidade da floresta degradada no processo de savanização a longo prazo”, explica Scott Stark à Casa NINJA Amazônia.
Stark é professor do Departamento de Silvicultura da Michigan State University, e um dos autores do estudo, que também reuniu David D. Breshears Susan Aragón Juan Camilo Villegas Darin J. Law Marielle N. Smith David M. Minor Rafael Leandro de Assis Danilo Roberti Alves de Almeida.
Stark e sua equipe, foram capazes de avaliar os efeitos do fogo e desmatamento em Alter do Chão utilizando um sistema de sensor remoto portátil instalado em torres temporárias acima do dossel em florestas. Os resultados sinalizam que um processo de savanização na floresta tropical pode ocorrer em um curto período de dez anos.
“Você pode ter floresta ou savana nas mesmas regiões de clima e precipitação. A principal coisa que os mantém distintamente diferentes uns dos outros é o fogo. Savanas existem quando há fogo periódico. Para reduzir o aquecimento global, é melhor manter as florestas tropicais em vez de se transformar em savanas tropicais”, explica.
Ao analisar o clima atual e as mudanças rápidas que acontecem na Amazônia devido aos índices de devastação, o alerta de savanização emitido pelos cientistas é fundamental para entender o futuro da Amazônia, a segurança de seus povos nativos e o futuro do meio ambiente global, que se encontra cada vez mais ameaçada.