Por Luene Karipuna para Casa NINJA Amazônia
O apagão no Amapá, que durou 22 dias, afetou a maior parte dos municípios do estado, causando prejuízos inestimáveis à população amapaense. Os povos indígenas, por sua vez, também sofreram bastante com a situação.
Em busca de melhores assistências educacionais, entre outras capacitações, para poder voltar às aldeias e dar assistência a seu povo, muitos indígenas moram na capital Macapá, onde residem em casas de apoio ou pagam aluguel com dinheiro obtido pela venda de artesanato. Além de sofrerem com a pandemia, por não poderem comercializar seus produtos e meio de renda, essas populações foram fortemente prejudicadas pelo apagão.
Primeiro os amapaenses ficaram sem energia, depois começou a faltar água potável para beber, a comida congelada foi estragando com o decorrer do tempo e o dinheiro foi ficando escasso. Sem água potável, os Tiriyó tiveram que beber água do poço, sem tratamento. Essa situação caótica originou um surto de diarreia.
De acordo com as lideranças indígenas, em Macapá existem quatro casas de apoio para povos diferentes, em bairros distintos da cidade. Há ainda a casa de assistência de saúde indígena, a Casai – Casa De Saude Indígena, que abriga indígenas de diferentes povos, que vão à capital em busca de tratamentos de doenças, exames e etc.
Quem também passou por sérias dificuldades foi o cacique Celestino, que é do povo Tiriyó Kaxuiana, da aldeia Santo Antônio, situada na Terra indígena do Parque do Tumucumaque, no lado oeste. Ele esteve hospedado na casa de assistência à saúde indígena em busca de tratamento e vivenciou a situação.
“Aquele apagão deu muito problema, principalmente, para as pessoas da Casai. Tinha gente com exame marcado e não puderam fazer. Com a volta da energia, as coisas começaram a voltar ao normal, só que no final do ano é sempre muito difícil e todo mundo está retornando pra sua aldeia”, conta o cacique.
Ainda segundo ele, a Casai não oferece uma boa estrutura de apoio. “Durante dois dias a gente ficou sem água aqui na Casai. Aí, depois, eu não sei o que foi que aconteceu, não sei se conseguiram instalar bomba, não sei. Mas, começou a chegar água depois de dois dias, como aqui na Casai tem reservatório de água, aí enchiam esses reservatórios e os pacientes carregavam a água para o banheiro, as pessoas que tinham dinheiro compravam água para beber”, relata.
A Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e norte do Pará (APOIANP) fez a campanha “Somos Todos Parentes Apoie Os Indígenas De Macapá”, que teve o intuito de arrecadar cestas básicas e água para ajudar os parentes que estavam nessa situação de desamparo em Macapá.
A primeira doação veio da Justiça Federal, na figura do juiz Leonardo Soares, que doou 100 cestas básicas e água potável. A SINDUFAP/ANDES e o Movimento Utopia Negra Amapaense, contribuiu na campanha com mais 50 cestas e água potável.
Depois dessa iniciativa, foi lançada a campanha de vaquinha, que arrecadou mais doações, vindas de apoiadores da internet e de articulações parceiras, como a APOINME, que contribuiu com verba para facilitar a distribuição das cestas, a inserção de itens essenciais para enriquecer essa alimentação, como frango, peixe, verduras e leite. Assim como eles, a COIAB também conseguiu repassar verba específica para esses parentes, e com isso foi possível seguir com a mesma ação complementar, estendendo a todas essas famílias melhores condições de enfrentar esse caos. A ação continua em execução, mas atualmente a APOIANP volta sua atenção aos parentes doentes, que necessitam de materiais de higiene, medicamentos, entre outras coisas.
Em meio a tudo isso, Simone Karipuna, que é liderança e membro executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP) também compartilhou a triste experiência enfrentada, durante o apagão. “Nós indígenas sofremos na pele a dificuldade de ter o abastecimento de água comprometido, também tivemos dificuldade em relação a alimentação, pois não correspondia a uma alimentação saudável de um idoso uma idosa, de uma criança e demais familiares”, conta Simone, destacando que muitos alimentos estragaram e os indígenas não tinham dinheiro para comprar mais.
Além do apagão, os amapaenses também enfrentaram as precárias condições em meio a pandemia da covid-19. “Na maioria das vezes, indígenas doentes de covid tiveram que aguentar o calor. Nós, da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará, lançamos uma campanha que teve a adesão de vários parceiros, a exemplo da COIAB, da APOINME. Seguimos prestando esses serviços para as populações indígenas, que apesar da energia elétrica ter voltado, nossos parentes ainda sofrem com o medo e frustração de ficar sem alimento”, frisou Simone Karipuna.