A vacinação contra a Covid-19 para as populações indígenas é urgente e deve ser prioritária. Inúmeros estudos já comprovaram que povos indígenas são mais vulnerabilizados a epidemias em função de condições sociais, econômicas e de saúde piores do que as dos não indígenas, o que amplifica no potencial de disseminação de doenças.
Dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) indicam que 928 indígenas, em 161 territórios, morreram no país vítimas do novo coronavírus. E após quase um ano de pandemia, o governo Bolsonaro não apresentou nenhum plano de enfrentamento à Covid-19 nas Terras Indígenas que fosse eficaz. A última versão foi rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em dezembro.
Segundo o médico sanitarista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Douglas Rodrigues, a vacina contra a Covid-19 é a única maneira de nos livrarmos do novo coronavírus. “Eu já vi muitas epidemias e muitas mortes de indígenas para as quais existiam vacinas, a exemplo do sarampo e da varíola, entre outras doenças. Quando essas populações começaram a ser vacinadas, a mortalidade diminui. As vacinas são fundamentais para prevenir a morte dos indígenas”, explica.
A coordenara executiva das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (OIAB), Nara Baré, explica que há uma negligencia total por parte dos governos. “Estamos em total colapso da rede de saúde, que começou em Manaus e já afeta vários municípios brasileiros. Nós que perdemos pessoas próximas, amigos e familiares, sabemos que a Covid-19 não é uma ‘gripezinha’. O governo brasileiro não se preparou e não se prepara para enfrentar a pandemia e, no que se refere a vacina, é a mesma coisa. E por conta disso, estamos vivendo uma segunda onda, sujeitos a uma terceira”, observa a liderança indígena.
Um levantamento do Coletivo Indígenas do Amazonas aponta que o plano nacional de imunização da Covid-19, que começou em 14 estados e no Distrito Federal (19 de janeiro), exclui aproximadamente 380 mil indígenas brasileiros, por eles não viverem dentro de aldeias de territórios demarcados, como exige o governo de Jair Bolsonaro.
A exclusão responde a uma discriminação muito comum que considera os indígenas das cidades “menos indígenas” que os aldeiados. “Nós, indígenas que vivemos fora de nossas aldeias/comunidades somos vistos pelo Estado como uma espécie de desertores étnicos, como se tivéssemos desistido da nossa identidade ancestral e aderido a uma nova identidade da cidade, como se tivéssemos escolhido não ter mais os nossos direitos enquanto indígenas”, reforça publicação da Apib. “É assim que sentimos a omissão do Estado em nos prestar uma atenção diferenciada à saúde que considere e respeite as nossas especificidades étnicas, culturais e sociais”.
A decisão é mais ação genocida do governo federal contra as populações originárias do Brasil, que nos últimos anos sofreram fortes ataques e retrocesso de direitos conquistados.
“Mais do que proteger o indivíduo que toma, a vacina protege toda a comunidade”, salienta Douglas sobre a urgência da imunização contra a Covid-19 das populações indígenas brasileiras.
No mundo, mais de 50 países começaram a vacinar as suas populações. Enquanto isso, no Brasil, Bolsonaro ignora a pandemia, incentiva aglomerações e sucateia órgãos públicos socioambientais, bem como o Sistema Único de Saúde (SUS), que sofre com a falta de estrutura e de recursos para tratamento de complicações mais severas como a Covid-19.