Ativistas e especialistas de todas as regiões do país e internacionais participaram do painel Clímax Global: Contagem Regressiva, na abertura do Emergências Amazônia, novo projeto internacional da Mídia Ninja e Casa Ninja Amazônia em parceria com o 342 Amazônia e APIB, focado em discutir, mobilizar, articular e apoiar ações de alerta à crise climática.A coordenadora executiva da Casa Ninja Amazônia, Marielle Ramires apresentou o evento, enquanto Karla Martins foi mediadora.
“Esse é um diálogo necessário que consideramos estar integrado ao acampamento Terra Livre, ação do Abril Indígena. Infelizmente, atualmente há duas batalhas em curso, contra o Governo e a pandemia. São muitos os contaminados por esses vírus que estão matando igualmente o meio ambiente e os povos indígenas” disse a liderança indígena Sônia Guajajara, que abriu o painel na manhã desta sexta-feira (9).
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Tomando como exemplo os conflitos na Terra Indígena Yanomami, impulsionada pela invasão de garimpeiros, a deputada federal Joenia Wapichana concordou com as declarações de Guajajara e destacou: “o homem precisa mudar de comportamento. O desmatamento e a contaminação dos rios vai impactar a vida de todos os seres humanos. Hoje, vê-se em Roraima mais de 20 mil invasores encorajados pelo próprio governo”. Ela disse ainda que se o Governo Federal não se comprometer com os acordos internacionais, vai ver desvalorizada a questão que mais valoriza, que é a econômica.
O coordenador-geral da Coica, Gregório Mirabal celebrou o Emergências. “Sei que serão muitos os desdobramentos que vão fortalecer a luta dos povos indígenas. O ser humano precisa entender que há sérias consequências sanitárias e climáticas se ele continuar quebrando o equilíbrio com a mãe natureza”.
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Democracia ameaçada, desigualdades acentuadas
Sob a perspectiva de gestão pública, a co-presidente do IRP/Unep da Onu e ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, destacou que a questão climática deve ser alvo de atenção de toda a sociedade, pois é um tema geopolítico, um desafio das economias do mundo todo.
O risco climático é levado em consideração quando os países pensam em financiar algo. “A relação que esse país tem com seus recursos naturais e o respeito pelos direitos das comunidades e a relação que elas têm com a natureza importam”.
E a Amazônia tem centralidade nesse assunto. “Não dá para ter agenda climática sem democracia, o modelo que temos hoje, de exclusão de direitos dos povos indígenas, por exemplo, passa longe da interlocução política que deveríamos ter”, alerta Izabella.
As injustiças climáticas são alvo de preocupação de Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima. “Estamos andando para o abismo e com as alterações do clima as desigualdades se ampliam. O clima mais seco por exemplo, dificulta o acesso a quem já não tem alimento, água potável. Quando a gente discute aquecimento global, discutimos um mundo em que as desigualdades sociais são agravadas”.
E o Governo Federal, no seu entendimento, só agrava a situação. “Estamos à beira de um colapso total: órgãos ambientais sucateados, o Ministério do Meio Ambiente está em guerra com a PF – vide caso das madeiras apreendidas e o congelamento das multas ambientais”.
É por isso que, segundo ele, foi elaborado manifesto assinado por quase 200 entidades, pedindo ao governo dos EUA que esteja atento ao repasse de recursos, “pois é provável que eles sirvam a interesses políticos do governo brasileiro e até eleitorais”.
Atuação europeia
A eurodeputada portuguesa Marisa Matias avalia que países europeus têm endossado medidas paliativas que não surtem o efeito esperado. “Há um enorme desprezo pelas pessoas comuns, por ativistas e greves climáticas. Mas o preço que vão pagar é caro”. Ao comentar acordo entre a União Europeia e o Mercosul, acredita que deva ser feito de modo sistemático para proteger a Amazônia. Caso não, que seja bloqueado. “Infelizmente, com a crise sanitária, a crise climática ficou em segundo lugar”, sem que as lideranças percebam que há correlação.
Incoerência no discurso
Representando a Amazon Watch, a equatoriana Sofia Jarrín Hidalgo criticou a atuação do BID e FMI que, no seu entendimento, usam temas atraentes em seus discursos, mas operam com incoerência. “Dizem que fomentam projetos de desenvolvimento sustentável, mas com linhas de crédito incentivam legendas neoliberais”.
Engajamento de países da América do Sul
Além de alguns maiores problemas da Amazônia, que são o desmatamento, extração de madeira e garimpos ilegais, temas recorrentes aos painelistas, o biólogo e ambientalista americano, Thomas Lovejoy alertou ainda sobre o ciclo hidrológico: “precisa ser protegido”.
“A Amazônia sudeste está se transformando numa savana, sem vegetação. O regime de chuvas está impactando também na Amazônia Oeste, assim como em outros países da América do Sul, como o Chile”, explica.
Para Thomas, qualquer um que se importa com a Amazônia tem que ouvir os povos indígenas. “Eles já sabiam desses perigos muito antes da ciência. Temos que encontrar maneiras de aumentar a quantidade de plantas para que a Amazônia volte a uma margem de segurança”.
Grande parte da responsabilidade é brasileira, mas o ambientalista acredita que é preciso compartilhar o “peso” com outros países da América do Sul. “A degradação dos ciclos hidrológicos começa no Brasil, mas isso não significa, porém, que os outros países amazônicos não devam estar engajados”, sugeriu.
Clímax Global: COntagem Regressiva está disponível no YouTube da Mídia NINJA, assista!