Para que jamais seja esquecido o Massacre de Eldorado do Carajás, triste episódio da luta de trabalhadores rurais por terra no Brasil, há 25 anos o MST realiza manifestações que ficaram popularmente conhecidas como o Abril Vermelho. As ações relembram que no dia 17 de abril de 1996, 21 trabalhadores foram assassinados e outros 69 mutilados pela polícia do Pará. Eles foram surpreendidos na curva do S em Eldorado do Carajás (Pará). A data se tornou um marco da luta camponesa internacional e lei, como Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Conquistas simbólicas, pois há muito a ser feito pela reforma agrária no país.
É o que avalia a dirigente do MST, Marina dos Santos. Ao lado de outras duas lideranças, João Paulo Rodrigues e Francisco Moura, participou de entrevista coletiva de imprensa nesta sexta-feira (16). Além de comentar as ações programadas para este mês, classifica que a política do governo Bolsonaro gera “entulhos autoritários”.
“O governo tem realizado o que estamos chamando de muitos ‘entulhos autoritários agrários’. Normativas criadas para facilitar a vida dos grandes latifundiários, dos donos de grandes terras do agronegócio em detrimento da agricultura, dos camponeses, dos indígenas, dos quilombolas e aí entram os assentados”.
Titulação, regularização fundiária e crimes ambientais
Por meio de projetos de leis, medidas provisórias e decretos Bolsonaro tenta promover a titulação de lotes dos assentamentos, das comunidades que foram conquistadas e são áreas públicas, para torná-las privadas. Assim, assentados são despejados e essa porção de terra é colocada à disposição do capital. “De novo, na mão de grandes proprietários de terra”.
Outra problemática é a regularização fundiária. “A regularização de todas as áreas públicas, em especial na Amazônia, também objetiva a ‘regularização’ para coloca-las à disposição dos grandes proprietários”. Nessa prática, eclodem os crimes ambientais. “Fogo, desmatamento, venda de madeira ilegal… Com proteção total do ministro do Meio Ambiente e do presidente”.
A fome é outro sintoma dessa realidade que privilegia poucos. “Hoje o Brasil tem 19 milhões de pessoas que não têm acesso à comida todos os dias e por outro lado temos um país com terras e todas as condições de produzir comida para todos os brasileiros”.
Paralelamente, a ação das milícias preocupa pela prática adotada por grandes latifundiários que têm apoio do governo. “Sentimos o peso da repressão a partir da atuação de milícias, jagunços, que junto aos proprietários vão a nossas áreas fazer ameaças. Muitas vezes, com apoio da polícia. Recentemente, na Bahia, um desses enfatizou que era ‘amigo’ do presidente”.
A resistência se fortalece por ações de solidariedade, conta Marina. “A nossa terra tem como prioridade a produção de comida, produzir alimentos e não commodities”.
Doações de alimentos, marmitas e plantio de árvores
As ações de doação de alimento, por exemplo, têm como ponto alto este dia 17. “Reafirmando nossos ideais de lutar contra a fome e a desigualdade social, em vários pontos do país realizaremos doação de alimentos, respeitando, é claro, todos os protocolos sanitários”.
Em 2020, os Sem Terra doaram 4 mil toneladas de alimentos e 700 mil marmitas. “Também estamos realizando plantio de árvores. Nossa meta é chegar a 100 milhões nos próximos dez anos. Em sua maior parte frutíferas, e as espécies respeitam o bioma de cada região”.
O MST também realizar forte mobilização para organizar o trabalho nos assentamentos para promover a comercialização da produção em pequenos e médios municípios para gerar renda e qualidade de vida a assentados.
No dia “D” das ações da jornada, neste sábado (17), às 10h, foi realizado o ato político-cultural em Memória aos 25 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, transmitido nas redes sociais do MST.
A programação segue no domingo (18), com mais doações de alimento e encerra no dia 21, com mutirões do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, mesmo projeto que pretende plantar 100 milhões de árvores ao longo de 10 anos.