Com uma rotina constante de conflitos agrários no Brasil a luta dos trabalhadores rurais pelo direito à terra é renovada diariamente. E é no mês de abril, que ela se intensifica, quando relembram o Massacre de Eldorado do Carajás. Em 17 de abril de 1996, 19 pessoas foram assassinadas na curva do S, surpreendidos pela polícia do Pará. Outros dois não resistiram aos ferimentos e morreram logo depois. O crime segue impune.
Da direção nacional do MST, João Paulo Rodrigues ressalta que o Abril Vermelho – como ficou popularizado o mês de mobilização – continua mais necessário que nunca: um mês de luto e de luta. É ocasião de dialogar com a sociedade sobre reforma agrária.
“O que nos preocupa é que chegamos 25 anos depois, com uma quantidade imensa de famílias Sem-Terra no Brasil, acampadas, vivendo as situações mais adversas na beira de estradas”.
João explica que houve um período que poderia ter sido feita a reforma agrária no país, com Jango, antes do golpe militar. “A reforma foi paralisada por praticamente, 50 anos, mesmo com a Constituição de 88 nada avançou. Mais uma vez o conceito de produtivo a segurou”. Diante do apelo dos massacres de Corumbiara, em Rondônia, e de Carajás, o tema passou a ter relevância.
“Popularizou-se nas universidades e no Estado, pois com a marcha para Brasília, em 1997, o presidente Fernando Henrique Cardoso, à época, foi forçado a criar o ministério do desenvolvimento agrário, a construir e formalizar o Pronaf e um conjunto de políticas públicas que se consolidou no governo Lula”.
O massacre de Carajás, relembra, foi uma ação trágica conduzida pelo governador do estado do Pará. “Não tinha finalidade de despejo, não foi dentro de um área privada, foi um massacre para proibir a ida e volta entre Parauapebas, Carajás e Marabá. Ou seja, foi um desastre organizado pelo governador que acabou por pautar a reforma agrária”. Para se ter uma ideia, em 1998, registrou-se o maior número de famílias assentadas de toda história depois do golpe.
Ele realça que mesmo frente à pandemia, a mobilização em 2021 segue vibrante. “É dia internacional da luta camponesa, organizada em mais de 80 países no mundo. Nossa luta atual, em meio à crise sanitária é evitar despejos”.
E ainda, enfrentar a política do governo Bolsonaro. “Afinal, o grande projeto dele se resume a algumas questões, como armamento dos latifúndios, regularização fundiária, privatização de 200 milhões de hectares para passar para a iniciativa privada e deixar o dólar alto para priorizar o preço da soja”.
E priorizando o agronegócio, por exemplo, Bolsonaro neutraliza as chances de um projeto de reforma agrária avançar. “Mas eu aviso que o MST está mais vivo que nunca. Estamos protegendo nossa saúde e organizando os assentamentos, nos preparando para retomar nossa luta pela terra quando acabar essa pandemia”.