Um dos principais responsáveis pelo projeto de criação do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães (MT), o fotógrafo de natureza Mario Friedlander continua obstinado na defesa do meio ambiente.
O drone comprado para trabalho agora virou ferramenta de monitoramento, com voos diários saindo da casa onde mora há mais de 40 anos, na região do Alto Jamacá. O objetivo é sondar a paisagem e em seu radar, estão sinais de fogo ou fumaça.
“Não queremos ser pegos de surpresa”, diz um dos guardiões da floresta conservada que agora tem seu raio de visão mais que ampliado.
Ele conta que ao menos 30 pessoas colaboram com um planejamento de iniciativas de prevenção e de preparação para o combate, pois quando for necessário, lá vão para a linha de frente, como no ano passado. “Iniciamos também a renovação dos aceiros em volta das edificações e a organização dos equipamentos de combate aos incêndios florestais”.
Mario diz que estão todos em alerta, pois é agora, no findar das chuvas, que as ameaças se descortinam. Ele quer reduzir as chances de um cenário devastador como o visto no ano passado.
Os impactos das mudanças climáticas podem ser constatados no cotidiano. “Há uns três anos temos notado uma acentuada redução no nível dos poços cisternas, que alimentados pelo lençol freático, passaram a secar. É nítido. As chuvas começaram a atrasar e quando vêm, têm um volume muito menor. Com secas prolongadas, o fogo é certo”.
O ativista que também atua na defesa do Parque Estadual Serra de Ricardo Franco, em Vila Bela da Santíssima Trindade também transita pelo Pantanal. No ano passado suas lentes registraram o que traduz como uma verdadeira tragédia.
“E diante de uma rápida observação e análise do clima, a gente sabe que ele pode se repetir ou ser muito pior. Quero confiar que a experiência do ano passado possa ter chamado a atenção para o risco e acredito eu, as autoridades políticas e organizações ambientais estejam em alerta”.
Em Chapada, ele já está. “Faço voos duas vezes por dia: de manhã e de tarde. Dia desses vi um foco de fumaça e fui até o local. Era uma pessoa queimando cipós no quintal de casa. Menos mal, pelo menos estamos confirmando que o drone pode ser uma ótima ferramenta para a conservação e proteção da natureza. Estamos de olho”.
Prevendo o aumento de focos, se angustia pela falta de apoio. “Há muitas dificuldades a serem enfrentadas. E já estou encontrando. Conheço esse cenário em que ao defender o meio ambiente, ganhamos é muitos inimigos. Tem gente reclamando sobre uma suposta interferência na privacidade. Mas eu explico que meu foco é fogo e fumaça. De outro lado, tem mais gente apoiando”.
O fotógrafo ressalta que a medida visa impedir que se houver fogo, ele não progrida. “Se isso acontecer, fatalmente vai interferir na nossa vida. Monitorando os pequenos focos, podemos combate-los. Meu alvo de observação – em voos nivelados com o horizonte, são áreas de floresta, estradas, rios”.
Um suporte para compra de equipamentos para o momento crítico das secas seria muito bem-vindo, ressalta.
“Mas já desistimos de buscar apoio de prefeitura ou governo. Vou buscar ajuda de amigos. Afinal, precisaremos alimentar nossos brigadistas, de gasolina e principalmente, de comprar equipamentos de combate ao fogo. Temos um plano de ação, mas não temos apoio”.
No ano passado, mais uma vez tiveram que agir por conta própria. “O entorno da cidade estava tomado pelo fogo, que só não atingiu o Parque Nacional em cheio porque brigadistas do ICMBio fizeram manejo do fogo em áreas estratégicas para que não se propagasse ou fosse controlado”.
A brigada voluntária do Jamacá faz o que pode para proteger a região. “Não adianta a gente viver em paz em um pedaço de terra e o entorno ser devorado. Entrei nessa na raça. Sabemos que não podemos frear a devastação, mas podemos reduzi-la, diminuir o ritmo. Imagina só se um bando de maluco não tivesse se unido para criar um parque nacional, essas belas paisagens naturais que a gente observa na estrada teriam prédios e casas no lugar”.
É essa angústia motivada pela ausência do Estado em proteger o meio ambiente e as comunidades que a cada dia que passa têm motivado as formações de brigadas de voluntários. Mas Friedlander alerta: “é preciso equipamentos, capacitação e coordenação, sob pena de surgirem outros problemas, como acidentes”.
A brigada formada para proteger o Alto Jamacá, por exemplo, já passou por combates diretos ao fogo anteriormente e está mais preparada. “Os governos em todas as esferas precisam se atentar para o potencial que têm as brigadas civis. Mas elas precisam estar integradas e em franca comunicação com o Corpo de Bombeiros, ICMbio, Defesa Civil… As brigadas precisam de capacitação, de treinamento, apoio jurídico, político. É muito mais barato para o Estado e muito mais eficiente, veja só essa prática do monitoramento”, conclui.