Ao que parece as negociações para que os Estados Unidos financiem ações de preservação ambiental no Brasil estão estagnadas. A última reunião entre auxiliares do Enviado Especial Climático do governo Joe Biden, John Kerry e técnicos do Itamaraty e Ministério do Meio Ambiente ocorreu no fim de maio. Desde então, não há nenhuma agenda nesse sentido.
Ainda mais agora, com o pedido de demissão às pressas do ex-ministro Ricardo Salles, alvo de escândalos e investigações. Pode ser que os EUA acreditem que não seja boa hora de injetar dinheiro no Brasil. Na verdade, muita gente aposta nisso.
O financiamento europeu do Fundo Amazônia que tem R$ 2,9 bilhões parados, também está suspenso por falta de acordo com o governo brasileiro que decidiu criar suas próprias regras, além dos maiores índices de desmatamento registrados nos últimos meses que vão na contramão das promessas feitas por Bolsonaro à Cúpula dos Líderes. Lembra que no dia seguinte ele cortou R$ 240 milhões do orçamento do Ministério do Meio Ambiente?
Vale repassar, foi o próprio governo americano quem alertou autoridades brasileiras sobre carga de madeira ilegal apreendida em porto na Geórgia.
Salles é investigado pela Polícia Federal por possível envolvimento em esquema de exportação ilegal de madeira. A PF apura se ocorria facilitação ao contrabando de produtos florestais, com a participação de funcionários públicos e empresários do ramo madeireiro. O ministro do STF, Alexandre Moraes, viu indícios de movimentações financeiras atípicas no escritório de advocacia do qual o ex-ministro do Meio Ambiente é sócio.
Além das investigações por conta da operação Akuanduba, no início de junho a ministra Cármen Lúcia autorizou a abertura de um inquérito para apurar se o Salles agiu para obstruir as investigações de um esquema de desmatamento ilegal na região. No caso, a Operação Handroanthus, considerada a maior apreensão já realizada no Brasil.
Vale ressaltar, Salles vinha solicitando ajuda do governo americano. Em uma das negociações, pediu U$ 1 bilhão. Em uma contraproposta os EUA sinalizaram investimento de R$ 5 milhões, mas o agora ex-ministro achou pouco.
Há analistas políticos que apontam sinais de que Biden possa estar mudando sua abordagem com o governo brasileiro, a começar pela aposentadoria do embaixador americano no Brasil, Todd Chapman. Ele vinha sendo criticado por membros do partido Democrata pela grande proximidade com a família de Bolsonaro.
Especula-se que o novo embaixador deva ter expertise na área ambiental.
O Senado americano também parece estar munindo Biden de argumentos caso precise pressionar o Brasil. É que está sendo reativado o Sistema Geral de Preferências que beneficia países em desenvolvimento com imposto zero de importação sobre determinadas mercadorias. E o Brasil é um dos principais utilizadores do SGP.
Durante votação no Senado parlamentares estabeleceram novas condições, entre elas, cumprimento de leis e regulamentações ambientais e ausência de graves violações de direitos humanos.
A votação ainda vai acontecer e isso nem quer dizer que o Brasil seja excluído, mas é possível que os senadores estejam municiando Biden caso o presidente americano deseje penalizar o Brasil.
(Com informações da Folha de São Paulo)