Uma caminhonete do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) repleta de bebidas alcoólicas foi interceptada por lideranças na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, na região Serras, no estado de Roraima. O carregamento fere normas internas das próprias comunidades que proíbem a venda e a comercialização de bebidas alcoólicas respaldados, baseados no artigo 231 da Constituição Federal. Ao todo 74 garrafas de cachaça e duas caixas de cerveja foram recolhidos.
Ao ser questionado pelas lideranças, o motorista disse que a carga pertencia a um dos passageiros. Ninguém apresentava sinais de embriaguez, de acordo com o relato do Conselho Indígena de Roraima (CIR).
A assessoria jurídica do Conselho Indígena de Roraima informou que vai oficiar os fatos no Ministério Público Federal (MPF) e na Fundação Nacional do Índio (Funai). Os indígenas criticam a intensa presença de carros do MAPA na Raposa Serra do Sol.
“As lideranças do Grupo de Vigilância e os demais coordenadores locais e regionais da TI Raposa Serra do Sol cobram que as autoridades tomem as devidas providências em relação ao caso”, diz a nota do Cir.
Para Flávia Teixeira, mestranda em sociedade e cultura amazônica na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o trabalho dos indígenas é primordial para evitar que bebidas alcoólicas circulem nas aldeias. “Os efeitos do álcool entre os indígenas é relatado em diversos estudos como sendo algo extremamente delicado e, em alguns momento, grave. O serviço de vigilância dos próprios indígenas é importante”, classifica.
Flávia critica o uso do carro do governo federal no carregamento das bebidas alcoólicas até as aldeias, e pede investigação sobre o caso. “O fato de um veículo público ter levado esse carregamento evidencia o total desrespeito pela vida indígena neste momento de pandemia, em que se faz necessário medidas de isolamento. É preciso que se investigue”, argumenta.
A Terra Indígena Raposa Serra do Sol abriga mais de 20 mil indígenas de pelo menos seis povos. Atualmente lutam contra a invasão do garimpo ilegal e ação de grileiros.