Overflight records areas of illegal mining within the Munduruku Indigenous Land in Pará in September 2019.
Sobrevoo regista áreas de garimpos ilegais dentro da Terra Indígena Munduruku, no Pará, em setembro de 2019

Em carta aberta, lideranças indígenas do Alto e Médio Tapajós criticam que entidade está encobrindo ações de garimpo e invasão das terras

Pelo menos quatro grandes organizações do povo Munduruku, representando por suas lideranças, aprovaram a publicação de uma carta com denúncias contra a Fundação Nacional do Índio e a polícia ambiental do governo brasileiro. O documento aponta que está havendo intensa destruição do território desde o primeiro ano de governo Bolsonaro.

“Nós, povo Munduruku do alto e médio Tapajós já nos pronunciamos muitas vezes. Somos contra o garimpo em nosso território e todo o avanço da destruição dos grandes projetos”. iniciam na carta divulgada nessa quarta-feira (7).

A carta é assinada pelo Movimento Munduruku Ipereg Ayu, Associação das Mulheres Munduruku Wakoborun, Associações: Pariri, Dau’k, Arikico e Wuyxaximã, além do Conselho Indígena Munduruku do Alto Tapajós- CIMAT.

Na ocasião, os indígenas também manifestaram preocupações sobre o projeto de Lei 191, que pretende legalizar as atividades que exploram recursos naturais, acelerando ações de garimpo.

O ministro do meio ambiente Ricardo Salles esteve na Terra Munduruku no último mes e recebeu garimpeiros na ocasião. Os caciques afirmam que esta ação fez aumentar a presença de garimpeiros na TI. O Ministério Público Federal investiga o uso de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que transportou garimpeiros ilegais da TI até Brasilía, para um encontro formal com representantes do governo.

Confira a carta dos caciques Munduruku na íntegra:

“Estamos em um momento muito triste para o nosso povo, a destruição está crescendo muito em nosso território, apoiada por esse governo de projetos de morte. As invasões do nosso território aumentaram e com ela a destruição em nosso território desde a chegada desse desgoverno e ainda mais após a visita do ministro do meio ambiente no nosso território.

Somos a maioria dos Munduruku, estamos nas nossas aldeias e somos contra empreendimento minerários e madeireiros em nosso território!

Não aceitamos os poucos que são enganados pelos pariwat e usam o nome do nosso povo. Não queremos regularizar atividades de destruição no nosso território. Queremos a retirada dos madeireiros do nosso território no médio Tapajós e a demarcação das nossas terras indígenas Sawre Muybu e Sawre Bapim.

A Funai está devendo com nós a nossa demarcação, e se posiciona favorável a PL 191 que serve para legalizar a invasão do nosso território. Abrindo portas também para diversos empreendimentos que impactam nossas vidas, como a proposta da ferrogrão. Nunca nos recebeu tão fácil em Brasília e não atende os nossos pedidos como a continuidade do Ibaorebu, nossa educação diferenciada, e a continuidade das fiscalizações no nosso território. A Funai esta colaborando com a destruição.

Sem nossa terra é impossível preservar nossa cultura para as outras gerações.

Temos o nosso protocolo de consulta e exigimos ser consultados de acordo a 169 da OIT.

Os Munduruku que trabalham no garimpo, não ganham com isso, sabemos que quem ganham são só os pariwat empresários. Se legalizar a prática da mineração em terras indígenas todos os indígenas do Brasil vão sofrer e não são eles que vão continuar trabalhando, vão chegar grandes empresas. Eles enganam alguns que estão enfeitiçados dessa doença e usam a voz de poucos gananciosos para representar o povo inteiro. E deixam acreditar que dependemos de muito para viver, enquanto estamos destruindo nossa real fonte de vida, nossos rios e nosso território.

A Operação de fiscalização ocorrida em nosso território, precisa acontecer com continuidade, precisa ser mais bem organizada e gerida. Eles precisam ter uma base de fiscalização em cada rio de nosso território como também na área urbana de Jacareacanga, para conseguir realmente expulsar os invasores. E precisam ficar aqui com a gente. Não adianta passar dois dias. Exigimos também base de fiscalização do Ibama na aldeia Karoebak na Terra indígena Sawre Muybu (Daje Kapap Eipi) médio Tapajós para fazer fiscalização contra os madeireiros.

Sabemos que tudo isso que está acontecendo é organizado pelo governo, pelos brancos, pelos comércios, e vieram atrás de fonte de vida. Não temos medo e vamos continuar na luta! Nós decidimos, os caciques e organizações do nosso povo, que nossa assembleia geral será dia 15 de dezembro de 2020. Exigimos soluções efetivas sobre a destruição desenfreadas em nosso território. Assim como pedimos uma visita do Ministério Público Federal em nossas Terras indígenas tanto do médio quanto do alto.”

Sawe!”