Foto: DBO/Reprodução

Cinco países europeus lideram o destino da carne bovina brasileira com rastro de desmatamento no seu processo de produção. São eles: Itália, Holanda, Espanha e Alemanha. Somente esses países correspondem a mais de 70% de carne bovina exportada em 2019. É o que revela uma investigação da Earthsight, ONG com sede em Londres, que divulgou um extenso relatório em setembro deste ano utilizando dados de dois grandes divulgadores de pesquisa sobre as mudanças climáticas: o MapBiomas e o Instituto Escolhas.

Os investigadores cruzaram dados de taxas de desmatamento e a importação de carne pelos países europeus, para projetar a quantidade de gases do efeito estufa emitidos no processo.

Liderando com sobra o volume de importações no continente, a Itália comprou 28 mil toneladas do Brasil só em 2019. Cerca de 14 mil toneladas tiveram origem em fazendas do Mato Grosso, com grande potencial de pastos para gado inaugurados como resultado de desmatamento, com emissões que chegam até 1,1 milhão de toneladas de CO2 (carbono).

A posição da Itália, de acordo com a Earthsight, revela sua dependência da carne bovina de Mato Grosso, que tem estimativas de emissões médias consideravelmente mais altas de gases do efeito estufa por quilo de carne bovina do que outros quatro estados brasileiros também avaliados na investigação: São Paulo, Goiás, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

A forte ligação entre o desmatamento e a quantidade de carbono embutido na produção de carne bovina é preocupante não apenas por causa de suas consequências ambientais, mas também por causa dos níveis de ilegalidade que provavelmente contaminam as cadeias de abastecimento de carne bovina. Um relatório publicado no início deste ano pela MapBiomas mostrou que 99 % de todo o desmatamento ocorrido no Brasil em 2019 era ilegal.

Queimadas para criação de gado e o aumento do desmatamento no Mato Grosso

Um levantamento feito pela Repórter Brasil (@reporterbrasil) denuncia que parte do fogo que atinge o Pantanal mato-grossense entre julho e agosto deste ano, teve origem em fazendas de pecuaristas que vendem gado para o grupo Amaggi, do ex-ministro e ex-senador Blairo Maggi, e para o grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi. Esses dois grupos empresariais, por sua vez, são fornecedores das gigantes multinacionais JBS, Marfrig e Minerva, também citadas na investigação da Earthsight.

Os resultados de ambas as investigações mostram que o volume de comércio raramente se preocupa com o rastro de carbono, mas que a origem do gado, as ligações com o desmatamento e os tipos de pastagem são os fatores mais importantes para indicar a pressão atual por áreas intocadas dos biomas.

Uma investigação da Polícia Federal apontou o envolvimento de ao menos cinco fazendeiros em incêndios no Pantanal, e acendeu o alerta para o que pode ser uma ação sistemática do agronegócio brasileiro para garantir competitividade de vendas seu mercado principal: a Europa.