Painel Aliança dos Povos da Floresta: O Caminho da Resistência, da Semana Chico Mendes

Além de relembrar a criação da Aliança dos Povos da Floresta, feita há mais de 30 anos, o terceiro dia da Semana Chico Mendes 2020, promovido nesta quinta-feira, 17,  foi um chamado para as novas gerações darem continuidade a esse legado.

“Se a Aliança dos Povos da Floresta foi criada há mais de 30 anos com os poucos recursos que se tinha, imagina hoje com tudo que temos à disposição, em termos inclusive de tecnologia. A revolução que é possível fazer com essa garotada disposta, firme e totalmente qualificada”, afirmou Angela Mendes, ambientalista e filha mais velha de Chico Mendes, na mesa ‘Aliança dos Povos da Floresta: O Caminho da Resistência’, em que participou ao lado de Ailton Krenak, Antonio ‘Txai’ Macedo e Dione Torquato, e que foi mediada por Angélica Mendes, neta do líder extrativista assassinado em 1988.

O escritor indígena Ailton Krenak foi um dos idealizadores da Aliança dos Povos da Floresta, na década de 80, ao lado de Chico Mendes e abriu o debate relembrando sua criação. “A Aliança nasceu em um momento de radicalização como agora, com um discurso negacionista muito parecido com o de hoje. Como se latifundiários e capitalistas estivessem nos apontando uma flecha”.

“Quando Chico empunhava uma bandeira de luta, ele levava em frente. Sou dessa geração”, relembrou Txai Macedo, um dos fundadores da primeira Reserva Extrativista em 1990, no Acre. “Esse governo está retrocedendo em tudo que a gente conquistou ao longo da vida. E a gente vai ficar esperando que tudo isso mude para que a gente possa ser feliz?! Não! Se você quer, vai lá e faz. Que a gente consiga condições, porque nós também somos uma sociedade sem condições financeiras. Mas, somos ricos em pensamentos e de experiências, porque a natureza é rica, então, nós somos ricos dentro da natureza”, salientou.

O secretário-geral da Conselho Nacional do Extrativistas (CNS), Dione Torquato, destacou que outro grande desafio é “ter uma aliança não dos povos para os povos, mas dos povos com a sociedade inteira. Se a gente quer cuidar do planeta, precisamos cuidar das pessoas que cuidam do planeta. Que a gente dê continuidade a essa história tão bonita e que é um compromisso nosso, das pessoas mais jovens.”

Angela Mendes também frisou a necessidade de resgatar a união dessa Aliança, e foi o que a levou até a Terra Indígena Capota-Jarina (MT) em janeiro de 2020, para encontrar líderes como o Cacique Raoni e Sônia Guajajara, coordenadora-geral da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). “A gente vem dialogando nesse sentido de realmente fortalecer e reatar essa Aliança. O momento é delicado por conta da pandemia, então as principais lideranças estão priorizando as suas vidas, as vidas dos seus. Como Txai Macedo falou, somos nós por nós.” Ailton Krenak concordou. “Assim que a pandemia nos der oportunidade ou os jovens, por exemplo, podem começar a trabalhar já para convocar, daqui um ano, um congresso internacional dos povos da florestas”.

Uma das propostas do líder indígena é o fortalecimento do cinturão de florestas tropicais do planeta. “A Aliança dos Povos da Floresta atravessou duas, três gerações e tem parcerias ao redor do mundo todo. A geração da Angelica Mendes, dos netos e dos que virão, poderão estender nossas ações para o futuro. Podemos dar melhor qualidade de vida para quem vive na floresta. O que alimenta nossa existência não é o agronegócio, são os nossos rios, as nossas florestas.”