Foto: Vinícius Mendonça/Ibama

Só em 2020 o Brasil perdeu uma área de floresta nove vezes maior que a área do município do Rio de Janeiro. De acordo com o Prodes, sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 11.088 km² ao todo.

A destruição avança velozmente e também, em proporções cada vez maiores. O pesquisador Ralph Trancoso, da Universidade de Queensland, Austrália, detectou que o tamanho das áreas desmatadas individualmente está muito maior. Em média, foram 61% maiores em 2019 e 2020, muito além do registrado nos dez anos anteriores.

Na pesquisa – pré-publicada na Environmental Research Letters -, ele analisa os padrões do desmatamento nos últimos dois anos (2019-2020) em comparação aos dez anos anteriores (2009-2018), com base nos dados do Prodes. Desta forma, constatou que o número de grandes polígonos de desmatamento supera o de pequenos.

Segundo seus apontamentos, o tamanho médio da área desmatada subiu de 10.6 para 24.7 hectares entre 2015 e 2019, e manteve-se em 24.1 hectares em 2020. Sendo assim, um crescimento médio de 61% nos últimos dois anos em comparação aos dez anos anteriores.

A pesquisa revelou ainda que o número de polígonos de desmatamento maiores que 100 hectares também cresceu nos últimos 5 anos e, em 2020 foi responsável por 35.8% de todo o desmatamento registrado na Amazônia. É a primeira vez no monitoramento recente que esse número de grandes áreas desmatadas supera a soma das áreas menores, com menos de 20 hectares e entre 20 e 100 hectares.

Na entrevista ao site ((o))eco o pesquisador creditou o crescimento da devastação ao enfraquecimento das políticas públicas de combate ao desmatamento e da fiscalização ambiental. Na sua opinião, é urgente a restauração de políticas de comando e controle, e das intervenções do mercado para conter o aumento do desmatamento.

Um dos principais exemplos, segundo ele, é o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, o PPCDAm, criado em 2004 e engavetado desde o início da gestão de Jair Bolsonaro, como descreve a publicação.

“Os desmatamentos estão, em média, 61% maiores durante a gestão do governo atual do que eram nos 10 anos anteriores, quando não houve grandes mudanças na governança ambiental da Amazônia. Áreas enormes com mais de 100 hectares (mais de 90 campos de futebol) agora dominam o desmatamento da Amazônia, como no início dos anos 2000, quando o desmatamento estava fora de controle. Estes números indicam que os padrões de desmatamento mudaram e agora estão concentrados em grandes polígonos, demonstrando o início de uma nova onda de destruição que deve ser controlada o quanto antes”, disse Ralph Trancoso.

Ralph reforça ainda que a mudança de postura dos consumidores de commodities da Amazônia, exigindo melhor rastreamento e transparência das cadeias produtivas, também é fundamental para conter o desmatamento ilegal.

“Até mesmo nós, os consumidores finais, podemos fazer escolhas inteligentes que ajudam a pressionar os distribuidores de commodities e o governo em suas políticas ambientais para a Amazônia”.