Ana Beatriz Hirooka é chef em Chapada (MT)

A cada dia a campanha Segunda Sem Carne conquista mais entusiastas no Brasil, sugerindo que você tire do prato, ao menos uma vez por semana, a carne e derivados.

Melhorias para a saúde têm sido a primeira das motivações, mas em um mundo onde as mudanças climáticas se tornaram uma questão de emergência, muita gente se sente no dever de colaborar mudando seus hábitos e somando a uma onda de conscientização ambiental.

Se deixando de comer carne apenas um dia, nós ajudamos e poupamos o meio ambiente de maneira considerável, então esse esforço vale a pena! Para te motivar, a Casa Ninja Amazônia dá início a uma série especial de receitas com assinatura de chefs dos estados da Amazônia Legal.

A chef Ana Beatriz Hirooka, que mora em Chapada dos Guimarães (MT), encampou a proposta. À frente do pran.t.a – empreendimento que nasceu durante a pandemia – ela incentiva a adesão à campanha Segunda Sem Carne e também ajuda quem está no processo de transição para o vegetarianismo ou veganismo.

“Um prato colorido e vibrante com ingredientes muito mais saudáveis para o organismo é também um convite para a descoberta de novos sabores”, incentiva.

Inspirada pelas paisagens do Cerrado e reclusa no ninho familiar em Chapada, ela tem ocupado a cozinha de casa por muitas horas, realizando uma silenciosa revolução, afinal, cozinhar é também um ato político.

É do seu laboratório de experimentações que surge a receita de hambúrguer de feijão com ora-pro-nóbis, cenoura e suas ramas, que ela compartilha conosco.

“Uma aposta em um ingrediente indispensável no nosso dia-a-dia e a ora-pro-nóbis que é uma panc [planta alimentícia não-convencional] bem conhecida. Ao usar também as ramas da cenoura, incentivo também para o aproveitamento do alimento em sua forma integral. Nesse processo, também é importante evitar desperdícios”.

Para produzir suas criações, Ana ressalta a importância de apoiar parceiros locais e da agricultura familiar que produzem produtos orgânicos. “Assim a gente também fomenta a economia local. Compro tudo de produtores locais de Chapada”.

Os hambúrgueres são uma das especialidades do seu cardápio. Na conta da pran.t.a no Insta, estão à venda sabores variados, como os de grão de bico com cenoura e sementes, feijão carioca com beterraba e gergelim, lentilha com abobrinha e curry e ainda, de feijão preto com semente de abóbora.

Na sua lista de receitas estão ainda queijos veganos – principalmente à base de mandioquinha -, requeijão de inhame, casca de banana desfiada – tal qual um pulled pork, experimento aos moldes da carne de jaca.

A jovem chef também investe na produção de caftas, lasanhas e no quibe de feijão preto que leva hortelã, pimenta síria e limão, bem ao gosto dos amantes da culinária árabe. “Particularmente, considero verduras e folhas muito saborosas sem precisar de nada, mas gosto muito de investir em temperos e elaborar molhos, como o de pasta de amendoim com vinagre e pimenta que uso no macarrão tailandês. Gosto muito da pegada oriental”.

A meta agora é incorporar cada vez mais, ingredientes do Cerrado. “No hambúrguer com queijo de mandioquinha e bacon de cenoura tenho acrescentado como tempero o açafrão da terra. Já no dadinho de tapioca, a castanha do babaçu. Estou bastante interessada no óleo de buriti também. Ele é bem laranja e rico em nutrientes, usado até na homeopatia”.

Por fim, Ana Beatriz reforça: “veganismo não é só não comer carne. É sobre preservar o meio ambiente. É sobre pensar no sofrimento dos animais, a forma revoltante com que são usados em testes. É refletir sobre o desmatamento e como nosso consumo o impulsiona. Grande parte do desmatamento se deve à pecuária, uma prática que requer um espaço muito grande. Fora a quantidade de água e grãos necessárias, com tanta gente passando fome”.

Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, só no Brasil, cerca de 10 mil animais morrem a cada minuto. Se passarmos apenas um dia sem comer carne, além de melhorarmos as chances de não ter doenças crônicas e degenerativas como a diabetes, câncer e doenças cardiovasculares, poupamos 24 m² de terra, 8 kg de grãos e economizamos 60 litros de água azul, sem contar que deixamos de emitir 11 kg de CO².

Ou seja, sim! Um dia sem carne faz a diferença no planeta.

Receita

Divulgação

Hambúrguer de feijão, ora-pro-nóbis, cenoura e suas ramas

👉🏼 2 xícaras de feijão cozido (porém al dente, queremos textura importante)

👉🏼 Aprox 15 folhas de ora-pro-nóbis

👉🏼 1 cenoura com as ramas

👉🏼 1/2 cebola e 4 dentes de alho frito (dar uma refogada agrega sabor, mas pode usar cru também)

👉🏼 1/2 xícara farinha de mandioca

👉🏼 1/2 xícara de aveia

Temperos (aqui foi cebolinha, salsinha, coentro, pimenta do reino, coentro em pó, cominho e sal)

1 concha da água do cozimento do feijão

Pode colocar todos os ingredientes no processador e bater até formar uma mistura grosseira, sem triturar demais.

🌱 Caso você não tenha processador, não se desespere! É possível fazer o hambúrguer na mão também. Para isso você precisará amassar grosseiramente o feijão, picar/ralar todos os vegetais, e depois fazer toda mistura em um bowl.

Dê uma sovada na massa para dar liga e ficar modelável. Nesse momento pode ser necessário ajustar algum ingrediente, caso esteja muito seco ou grudando nas mãos.

✨ Para dar liga na massa, a quantidade de farinha de mandioca e do caldo do feijão podem ser ajustadas! Ela varia bastante conforme o grão que está sendo utilizado e o quanto ele foi cozido.

Modele seus hamburguinhos no tamanho que preferir. Para esta receita, Ana Beatriz fez versão mini, com aproximadamente 60 g.

Depois é só grelhar em uma frigideira quente com um fio de azeite.

Maionese de inhame

👉🏼 2 inhames (aprox 300 g) bem cozido

👉🏼 2 colheres (sopa) de azeite

👉🏼 1 dente de alho

👉🏼 Sal e pimenta do reino a gosto

Água o suficiente para dar o ponto desejado.

Bate tudo no liquidificador até ficar bem homogêneo, adicionando água aos poucos e conforme a necessidade.