Em menos de 24 horas após o início de uma grande campanha de outdoor na cidade de Sinop (400 km de Cuiabá), as 10 placas contratadas por sindicatos e entidades da educação começaram a ser removidas antes mesmo de finalizar todas as fixações. A campanha, que faz parte de uma ação nacional pelo fim do governo Bolsonaro, enfatizava os altos preços de alimentos e combustível, bem como as mais de 450 mil mortes por covid-19 no Brasil.

Segundo as entidades responsáveis pela campanha, a empresa recebeu inúmeros telefonemas e ameaças por parte dos empresários e sojicultores, donos dos terrenos locados pela empresa onde são fixados os outdoors. “A empresa nos informou hoje que não seria possível seguir com a campanha e cogitou a possibilidade de danos, caso não houvesse a remoção imediata do material. Os profissionais foram perseguidos durante o trabalho”.

Em nota apócrifa, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro expõem dados da empresa de mídia que veiculou os outdoors e convocam os cidadãos a se manifestarem em tom de ameaça. “Em Sinop petista e esquerdista não vai se criar, serão sempre escorraçados para bem longe”, diz trecho da nota.

Segundo Thiélide Pavanelli, representante da Associação dos Docentes da Unemat (ADUNEMAT), uma das entidades responsáveis pela campanha, trata-se de um caso nítido de censura por parte dos empresários, que usam de suas estruturas e do capital para desmontar qualquer possibilidade de crítica ao governo Bolsonaro.

“O material não faz uso de qualquer conteúdo discriminatório ou de baixo calão”, reforçou a professora, que enfatiza que o mesmo município está habituado a receber campanhas de outdoor em apoio a Bolsonaro, financiados pelo agronegócio.

De acordo com o artigo 5º da Constituição Federal, é assegurado o direito de liberdade de expressão no Brasil, manifestação do pensamento, expressão artística, ensino e pesquisa, comunicação e informação (liberdade de imprensa).

Em Mato Grosso, Sinop é considerada a capital do agronegócio e um dos maiores redutos de apoiadores do presidente no Brasil, eleito com o voto de 77,38% da população sinopense. A cidade é conhecida por episódios de extremismo político em torno de pautas ultraconservadoras e contra causas sociais e ambientais. Em outubro de 2019, um grafite que retratava a ativista Greta Thunberg foi pichado e apagado de um viaduto.

As instituições repudiam a censura e o ataque à liberdade de imprensa, e já prestaram assessoria jurídica para a tomada de providências. Para as entidades, a campanha é fundamental por alertar a população sobre os posicionamentos criminosos e abusivos do governo, com a dilapidação dos direitos sociais, o desastre econômico, aumento de preços, a catastrófica falta de gestão durante a pandemia que vitimou quase 500 mil brasileiros. No mesmo período, Bolsonaro liberou armas e aumentou seu próprio salário e o de ministros.

(Com assessoria Adunemat)