Geralmente as áreas de produção agrícola são de pequeno porte, por conta da limitação espacial (Filmbetrachter/Pixabay)

 

O aumento da urbanização e redução de áreas verdes – ocupadas pelas florestas e a agricultura -, faz crescer as ilhas de calor nas metrópoles, provocando aumento de temperatura. Em São Paulo (SP), por exemplo, entre 1985 e 2019 a temperatura média aumentou 1°C, e a tendência é que se eleve mais 0,6°C até 2030.

Mas há uma alternativa para amenizar os impactos da urbanização desenfreada e ainda gerar alimentos acessíveis e reduzir o risco de inundações.

Um estudo do Instituto Escolhas, titulado “Além dos alimentos: a contribuição da agricultura urbana para o bem-estar na metrópole de São Paulo”, aponta a agricultura praticada nas cidades de maneira sustentável, como uma boa saída para frear o fenômeno do aumento de temperatura. A ampliação de áreas de cultivo é capaz de reduzi-la em média 0,2° C até 2030.

Este tipo de cultivo, além de contribuir para o bem-estar da população, pode ainda ser fonte de alimentos acessíveis e sem o uso de agrotóxicos, de quebra, preservando o lençol freático.

Geralmente, as áreas de produção agrícola são de pequeno porte, devido à limitação espacial para sua expansão.

“A horticultura é a principal atividade desenvolvida. Em pequena escala, a produção é voltada para o autoconsumo das famílias e para a venda nos mercados locais. Por estarem inseridos na mancha urbana da região metropolitana, essas áreas produtivas compõem importante papel complementar às áreas verdes dentro da cidade”, diz trecho do estudo.

Há reflexos na segurança nutricional: de acordo com o estudo, a produção agrícola urbana sustentável poderia alimentar 20 milhões de pessoas por ano com verduras e legumes, beneficiando-se da maior aproximação geográfica entre produtores e consumidores, que ajuda na comercialização e reduz desperdícios no transporte.

Caracterizados pela adoção de práticas mais sustentáveis de cuidado com o solo, nas quais não há o uso de agroquímicos, e sim de compostos orgânicos e estercos para a adubação e o controle biológico de pragas e doenças. O manejo mais sustentável da terra reduz a necessidade de revolvimento ao utilizar cobertura vegetal seca para evitar perda excessiva de água e manter a fertilidade e a estrutura do solo.

A provisão de alimentos pode cumprir papel importante em locais de vulnerabilidade social (Marcela Ferreira/Instituto Escolhas)

Ainda que sua potencialidade em fornecer serviços ecossistêmicos seja inferior à da agricultura periurbana (praticada nas franjas ou arredores das cidades), a provisão de alimentos pode cumprir papel importante em locais de vulnerabilidade social. Além disso, a presença de espaços permeáveis contribui para a mitigação de inundações, permitindo a infiltração da água.

O estudo indica ainda que os sistemas produtivos manejados de forma regenerativa, com técnicas baseadas na natureza, podem prover muito mais do que alimentos. Se manejado de forma a reduzir o revolvimento do solo ou se possuir árvores associadas ao plantio, um cultivo pode favorecer e facilitar a ocorrência de serviços, tais como o controle de erosão, o conforto térmico e o sequestro de carbono.

Inundações

A expansão urbana compromete principalmente, a capacidade de infiltração da água no solo, provocando transtornos ao cotidiano da metrópole paulista: os já conhecidos pontos de alagamento na cidade.

Segundo o estudo, a área construída da metrópole paulista aumentou 57 mil hectares entre 1985 e 2019. Houve ampliação da superfície com concreto e redução da capacidade de infiltração da água no solo em 14 milhões de m³. Isso significa dizer que 17 piscinões como o de Guamiranga, deixariam de ser infiltrados no solo em um evento de chuva forte (50mm), tornando a metrópole mais suscetível a inundação.

Simulação para 2030, considerando o atual ritmo de expansão da área urbana da metrópole, indica perda geral da capacidade de infiltração de mais 3 milhões de m³ de água em relação a 2019. Mas, se mantidas áreas florestais e se forem ampliadas áreas de produção agrícola sustentável possibilitaria a infiltração de cerca de 1,2 milhão de m³ de água a mais, em relação aos níveis de 2019.