Coordenador da Funai deu passe livre para a Prefeitura realizar obra em estrada (Foto Ilustrativa: José Cruz/Agência Brasil)

 

O coordenador regional da Funai no Sul do Pará, o capitão da Reserva do Exército, Raimundo Pereira dos Santos Neto “autorizou” que a Prefeitura de São Félix do Xingu realizasse uma obra de recuperação de uma estrada dentro da Terra Indígena Apyterewa. A obra beneficia famílias não-indígenas que ocupam o território indígena.

O presidente da Associação Tato´a, que representa os Parakanãs, Kaworé Parakanã, disse ao jornalista Rubens Valente do UOL, que estima haver mais de 3 mil famílias morando dentro do território. Há alguns anos um documento do governo já apontava a presença 5 mil invasores e 500 casas dentro de apenas uma das vilas dentro do território de 770 mil hectares que teria à ocasião dois postos de gasolina, dois mercados, quatro igrejas, oficinas mecânicas e até fábrica de beneficiamento de arroz.

O documento data 2016, quando o governo se comprometeu a retirar essas família em troca da liberação da licença ambiental para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Uma parte delas até foi retirada durante o governo Dilma, mas sob o comando de Michel Temer o plano foi abandonado.

Tudo piorou, é claro, no governo de Bolsonaro, que impulsionou um aumento no ritmo de invasões. Os invasores pareciam estimulados pelas possibilidades de tentar reduzir a demarcação da TI homologada em 2007 e reconhecido como território do povo Parakanã em 1982.

Com Bolsonaro, a onda de desmatamento aumentou, assim como a depredação do patrimônio material. Em novembro do ano passado por exemplo, invasores cercaram a base de fiscalização do Ibama e da Força Nacional e depredaram veículos. Ainda em 2020 a Prefeitura ajuizou um pedido acolhido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar conciliação com os indígenas a fim de reduzir a área do território. E o Governo Bolsonaro faria parte da conciliação via Advocacia Geral da União (AGU).

Segundo Kaworé Parakanã os indígenas souberam da obra na estrada por um vídeo que circulou no Whats App em que o prefeito do MDB, João Cléber, na presença do governador Helder Barbalho (MDB), entregava documento a um representante dos colonos falando do seu esforço para conseguir a autorização junto à Funai para poder entrar com máquinas e recuperar as estradas dentro da TI.

A Funai e a Prefeitura foram procuradas pela reportagem do UOL, mas desde a publicação da matéria, no dia 24, não responderam ao pedido de esclarecimento.

Os Parakanãs ressaltaram que não foram ouvidos sobre a obra e que vão denunciar o fato à Funai e ao Ministério Público Federal.