Como efeito das mudanças climáticas, o mar avança sobre Atafona, no Rio de Janeiro (Foto de Rafael Duarte/Mongabay)

 

O aquecimento do planeta está causando a elevação dos mares. Isso significa que muitas cidades costeiras podem vir a desaparecer para sempre, como resultado de mudanças climáticas. Bairros, vilarejos, metrópoles e até países estão perdendo a batalha contra a subida do nível do mar e a erosão costeira.

Em um cenário de aumento de 2°C no clima mundial, centenas de milhões de pessoas serão afetadas, tendo o Leste, Sudeste e Sul da Ásia, particularmente atingidos. As populações dessa região enfrentarão os maiores e mais imediatos impactos da subida do mar, pois têm menos recursos para combatê-los, aponta o meteorologista da CNN Internacional, Brandon Miller.

Isso não está distante da nossa realidade, como aponta o portal Terra. No Brasil, milhares de pessoas já tiveram que mudar de casa. No pequeno distrito de Atafona, na cidade de São João da Barra, no norte do Rio de Janeiro, o Oceano Atlântico já devorou mais de 500 edificações, forçando a migração de mais de 2 mil pessoas. O avanço do mar, é uma tendência em todo litoral brasileiro, alertam pesquisadores.

(Montagem: Fotos Gilberto Ribeiro)

Segundo a Organização Internacional para as Migrações, ao menos 240 descolamentos no Brasil, em 2019, foram causados por erosão costeira.

Na foz do rio Paraíba do Sul, o problema não tem sido apenas o aumento do nível do mar, mas também, a construção de barragens que levou à diminuição de seu fluxo, fazendo com que o mar adentrasse ruas e casas. E por lá, o balneário não está mais disponível para banho pois os destroços das construções submersas podem oferecer risco a banhistas.

Em Santos, no litoral paulista, o bairro da Ponta da Praia também tende a ser evacuado. Para contornar o avanço do mar, as autoridades locais acionaram a ajuda de cientistas. Foi então que surgiu um projeto-piloto. Com a ajuda de mergulhadores, foram depositados geobags contendo mais de 300 toneladas de areia no total. Os primeiros resultados são promissores: não apenas o mar parou de engolir o terreno, como a areia voltou a ser acumulada, uma esperança para reverter o desaparecimento da praia.

Mas a experiência santista também traz um recado sombrio: combater a elevação do nível do mar exige investimentos e inovação tecnológica. A maioria das regiões do mundo não serão capazes de inventar uma forma de continuar existindo.

“Em muitos casos, o custo da adaptação costeira pode ser muito alto, inundações causadas por tempestades, que aumentam o nível das águas e as levam para dentro das casas, se tornarão muito frequentes ou a intrusão de água salgada no lençol freático local tornará o cultivo de alimentos impossível — e pessoas em todas as regiões do mundo serão forçadas a deixar suas casas e suas cidades”, explicou Brandon Miller a John D. Sutter, da CNN.

Segundo Miller, o aumento global do nível do mar ocorre devido a dois fatores: “expansão térmica“, que significa simplesmente que a água se expande à medida que se aquece.

“Portanto, à medida que as temperaturas globais continuam subindo, os oceanos ficam mais quentes e literalmente se expandem, fazendo com que o nível do mar suba”.

Outro fator que leva ao aumento do nível do mar é a perda de geleiras e das calotas polares. Quando as geleiras e calotas polares derretem, a água flui para o oceano e aumenta seu volume.

Isso já está acontecendo e continuará a acontecer no futuro. “Desde 1900, estamos observando os mares subirem, em média, cerca de 20 cm. A taxa de mudança nos últimos 20 anos é cerca do dobro da taxa de mudança nos últimos 100 anos, indicando que a taxa de aumento do nível do mar está aumentando”. Os níveis do mar certamente continuarão a subir se o clima esquentar 2°C. A elevação do nível do mar não vai parar, mesmo que o aquecimento termine em 2 graus.

Segundo Miller provavelmente não desaparecerão, pelo menos não no curto prazo (até o final deste século), mas serão dramaticamente impactadas. “Muitas regiões baixas verão mudanças drásticas em sua geografia costeira devido à erosão das praias, desafios significativos de infraestrutura relacionados à intrusão de água salgada no sistema de água para uso e deslocamento da população devido a inundações”.

Existem alguns exemplos extremos, como as Ilhas Marshall, onde 99% do país fica abaixo de 5 metros de altitude, e que poderiam ser literalmente “varridas do mapa”, mas o problema vai muito além.

“As comunidades costeiras em todo o mundo enfrentarão riscos maiores de ondas de maré induzidas por tempestades, inundações frequentes de marés altas, etc. Muitas das maiores e mais influentes cidades do mundo estão localizadas na costa e devem fazer preparativos significativos para combater a elevação do nível do mar”.

Metrópoles e países podem ser “varridos” do mapa

Honduras e Kiribati são alguns dos países que sofrem com o avanço do mar. Este último, a primeira nação a perder a batalha para o mar. Metrópoles como Tokyo, Nova Orleans, São Petersburgo, Veneza e todo o território dos Países Baixos também são exemplos de lugares extremamente vulneráveis à elevação do nível do mar. Esses locais só não estão total ou parcialmente submersos hoje devido a (caríssimas) soluções tecnológicas, que ainda precisam ser incrementadas para dar conta da expectativa de elevação ainda maior nos próximos anos.

Jacarta, capital da Indonésia, já planeja deslocar a cidade para a parte indonésia da ilha do Bornéu, mas as obras estão atrasadas devido à pandemia e a dificuldades de financiamento. Cientistas já estimam que, se concretizada, a mudança terá impactos significativos na ilha, que abriga uma das florestas tropicais mais importantes do mundo, comparável à Amazônia em biodiversidade.

(Com informações do Portal Terra e CNN)