Registro dos prejuízos causados pelo avanço da erosão. Em Boca do Acre a situação é mais grave (Defesa Civil Amazonas)

 

Sem ter o que fazer, moradores de Atalaia do Norte, no Amazonas, temem que o contínuo desmoronamento da orla da cidade atinja suas casas. Eles sofrem os efeitos do fenômeno chamado “terras caídas”. As erosões são causadas pelo avanço do rio Javari.

O deslizamento dos barrancos que já ocorre há alguns anos, no período de seca, se intensificou no segundo semestre do ano passado. Mais de 1,5 km da orla já foram perdidos.

A Justiça estadual já havia determinado que o município e o estado tomassem medidas emergenciais, como a interdição da área costeira, mureta de contenção e a retirada de moradores que vivem em frente à orla. Mas a Prefeitura alega que não tem condições de realizar as obras e tem acionado o estado, que até o momento não se pronunciou.

Além do Javari, a mesma situação é registrada em cidades que ficam na calha dos rios Madeira, Solimões, Amazonas e o Purus, caso da cidade de Boca do Acre, onde a situação é ainda mais grave. Sinal de que o fenômeno das “terras caídas” está aumentando em número de ocorrência. Canutama, Parintins, Anamã, Tabatinga, Amaturá e Tonantins também registram deslizamentos de barrancos.

Cientistas alertam que o aumento do desmatamento, que cresceu mais de 67% no Amazonas, tende a acelerar o processo de erosão, que é uma dinâmica natural, causado pelo deslocamento do rio em sua trajetória dentro da planície até atingir a foz.

A ação do homem contribui com o fenômeno ao passo em que o desmatamento das margens dos rios se intensifica, tornando-se cada vez mais numeroso e potente. Provoca o deslocamento de volume de água cada vez maior e com mais intensidade, com isso, aumentando a escavação e erosão.

O geógrafo e ambientalista, Carlos Durigan, diretor da WCS Brasil, é especialista em projetos voltados à conservação e manejo da biodiversidade e de paisagens naturais na Amazônia.

Segundo ele, as terras caídas acontecem quando a água atua sobre as margens dos rios, causando erosão e abrindo extensas “cavernas subterrâneas”, até que uma ruptura provoque a queda do terreno, que é tragado pelas águas.

“O desmatamento e a degradação ambiental trazem perdas incalculáveis para a vida no planeta. Além disso, essa ação do homem contribui com a mudança do clima global, redução de umidade e chuvas em muitas regiões”, explicou em entrevista ao G1 Amazonas.