Apagar dados é promover o desaparecimento físico e extermínio dos modos de existência (Adriano Machado / Greenpeace)

 

A subnotificação de casos de morte por covid de indígenas nas cidades, é parte da política que faz ataques sistemáticos aos povos indígenas, seja diretamente aos seus corpos, seja às suas terras. Apagar esses dados é uma maneira de promover o desaparecimento físico e extermínio dos seus modos de existência, como alerta a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), responsável pelos boletins epidemiológicos da pandemia, não tem registrado mortes de indígenas pela doença que tenham acontecido fora de territórios reconhecidos e homologados. A situação provoca uma disparidade entre os dados do governo federal e os compilados por entidades que avaliam o impacto da pandemia sobre a população indígena.

Até 16 de agosto, o órgão federal registrou a morte de 783 indígenas e pouco mais de 52 mil casos de contaminação. Criado de forma independente, uma iniciativa Apib, o Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena revela que o número de infectados e mortos é maior: cerca de 58 mil casos e 1.179 mortes até as duas primeiras semanas de agosto.

A Apib utiliza dados das secretarias municipais e estaduais de Saúde, além do MPF. Um dos coordenadores, Erick Terena, disse à reportagem do UOL que a diferença entre os dados é tamanha “porque nós não temos essa discriminação. Nós consideramos indígenas em qualquer contexto, porque o território indígena é o Brasil inteiro”, explicou.

De outro lado, a Sesai realiza levantamento com base nos números fornecidos pelas equipes de saúde dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas, que ofertam serviços de saúde básica a, aproximadamente, 6 mil aldeias no país.

Em nota ao UOL, a Sesai disse que a população indígena em contexto urbano é atendida diretamente pelas respectivas secretarias municipais de saúde, e não pelo governo federal. Entre os que mais apresentaram infecções ou óbitos está o povo xavante, seguido do terena, kokama e guajajara, respectivamente.

Além de não registrar mortes de indígenas citadinos, a Sesai não especifica casos ou mortes por localidade nem detalha as etnias. Não faz isso, afirma, por “motivos éticos”.

Lideranças indígenas criticam a medida e ressaltam que não há diferenças de pertencimento de povo e afirmação porque um indígena vive na cidade e mora em uma casa de alvenaria. Para eles, falta entendimento do poder público porque a identidade indígena não se desfaz pelo fato de alguém sair da aldeia.

A migração, segundo eles, ocorre porque muitos seguem em busca de oportunidades de estudar ou mesmo de vivenciar a experiência na cidade para levar retorno às suas comunidades.

Acesse os dados do Comitê atualizados, clicando aqui.

(Fonte: UOL)