Mulheres somam à mobilização indígena no Acampamento Luta Pela Vida em Brasília (Foto: Eric Marky / Mídia Índia)

 

No primeiro dia do encontro, organizado pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), as lideranças indígenas femininas da Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e dos Pampas foram credenciadas e testadas para a COVID-19, dentro da parceria com Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz DF e RJ), Ambulatório de Saúde Indígena da Universidade de Brasília , Secretaria de Saúde do DF e Hospital Universitário de Brasília. Profissionais de saúde indígena estão acompanhando as delegações, que vão novamente ser submetidas aos testes ao final do encontro. Todas as participantes estão imunizadas para a Covid e a apresentação do cartão de saúde é obrigatória.

“Isso é só começo de uma narrativa do fazer diálogo coletivo pelas vozes de elas entre elas. Mais e mais mulheres vão se juntar à luta para defender e preservar nossos territórios de invasões, de madeireiros e de garimpeiros”, resume a cacica Kôkôba Mekrãgnotire em sua língua. A diversidade de línguas indígenas è marcada pela voz de uma jovem tradutora e jovem comunicadora NGreiran Kayapó, de 18 anos, que acompanha a primeira cacica da TI Menkragnoti, no sul do Pará, treinada desde a infância para suceder o avô cacique, em sua aldeia, na Amazônia.

Como NGreiran, várias jovens são a continuação de vozes das primeiras gerações de líderes femininas, traduzindo e facilitando as discussões em torno do tema “Mulheres originárias: Reflorestando Mentes para a Cura da Terra”, que valoriza as ações das mulheres indígenas ao longo do encontro e que é retratada com a imagem de uma indígena grávida cujas pernas e pés são raízes, simbolizando que as mulheres carregam força ancestral.

 

O dia transcorreu com calma no acampamento, depois de uma noite de apreensão, com manifestações a menos de 3km do local do espaço de encontro das mulheres, na Esplanada dos Ministérios, realizadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O acampamento conta com segurança realizada por indígenas mulheres e por seguranças profissionais e, apesar de muito barulho e manifestações racistas durante toda a noite, não houve incidentes.

Segurança

Uma série de provocações racistas contra os povos, promovidas por grupos bolsonaristas, ameaçam as mobilizações indígenas na capital desde o dia 22 de Agosto quando se iniciou o acampamento Luta Pela Vida. Denunciando a agenda anti-indígena do governo federal e congresso nacional, mais de 100 povos de todas as regiões do Brasil ocupam Brasília durante o mês de Setembro.

Ainda na Praça dos Três Poderes, na semana que antecedeu a II Marcha de Mulheres Indígenas, outro grupo de apoiadores do governo de Jair Bolsonaro precisou ser retirado por policiais militares pois estavam praticando atos racista contra os indígenas.

Com o início da II Marcha de Mulheres Indígenas, essas ameaças passaram a ocupar redes sociais de deputados e senadores da base aliada ao governo. Nas redes sociais, o presidente da Embaixada do Comércio do Brasil e organizador de protestos pró-Bolsonaro, Jackson Vilar, ameaçou derramar sangue de indígenas em Brasília durante o julgamento do Marco Temporal, que ocorre amanhã, dia 8 de Setembro.

A Apib e todas as suas organizações, reforçam que o propósito da mobilização em Brasília é protestar de forma pacífica por direitos e acompanhar o julgamento no STF, em apoio aos ministros e ministras do Supremo contra a tese do Marco Temporal. Todos os ataques que se enquadram em crimes de racismo, injúria, calúnia e difamação serão devidamente denunciados para que sejam tomadas medidas cabíveis, bem como as condutas de intimidação e ofensas.

Julgamento

Nesta quarta-feira, as lideranças femininas de norte a sul do país vão acompanhar a retomada do julgamento do Marco Temporal, interrompido no último dia 26, assistindo direto da tenda principal da II – Marcha das mulheres indígenas.

No dia 09 de setembro, será realizada a II – Marcha das mulheres, que trará como ato político as principais pautas defendidas por mulheres indígenas de todo país, em defesa dos biomas, da biodiversidade, contra o Marco Temporal e toda agenda anti-indígena promovida pelo Governo Federal e Congresso Nacional.

Confira a programação completa da II Marcha Nacional de Mulheres Indígenas aqui.

 

Saiba como foi outra grande mobilização, realizada em junho, a Levante Pela Terra. A Casa Ninja desenvolveu um especial sobre o assunto. Confira!