A área de pastagem é a principal forma de uso da terra no Brasil (Foto: Wenderson Araujo/CNA)

 

É quase do tamanho do Estado do Amazonas, que tem 156 milhões de hectares, a área utilizada para alimentar rebanhos de bovinos, caprinos e equinos em todo o Brasil. Segundo levantamento do MapBiomas, a área de pastagem é de 154 milhões de hectares, com presença em todos os seis biomas. Ela equivale também, a 6,2 estados de São Paulo ou mais de duas vezes e meia o tamanho da Bahia.

A área destinada à pecuária é ainda maior se considerar que a ela se somam parte das áreas de campos naturais, principalmente no Pampa e Pantanal, que cobrem 46,6 milhões de hectares no país, e áreas de mosaico de agricultura e pastagem onde o mapeamento não permitiu a separação ou elas ocorrem de forma consorciada, e que cobrem 45 milhões de hectares.

O levantamento identificou também, um processo de mudança de uso de solo, com a conversão de áreas de vegetação nativa para pecuária e a ocupação de áreas já convertidas pela agricultura. De acordo com o levantamento, o bioma com maior extensão de pastagens cultivadas é a Amazônia. Imagens de satélite utilizadas para o estudo mostram que a pecuária avançou, entre 1985 e 2020, 38 milhões de hectares – um aumento de cerca de 200%.  Esse crescimento faz com que o bioma amazônico seja o com maior extensão de pastagens cultivadas, com 56,6 milhões de hectares, seguido por Cerrado (47 milhões de hectares), Mata Atlântica (28,5 milhões de hectares), Caatinga (20 milhões de hectares) e Pantanal (2,4 milhões de hectares).

Pastagem é a principal forma de uso da terra no Brasil

O Brasil é um dos principais protagonistas globais no que diz respeito à produção de alimento, como destaca o pró-reitor de Pós-Graduação da UFG e coordenador do estudo, Laerte Guimarães Ferreira. “E a carne que produzimos e exportamos é uma carne produzida a pasto, então, a área de pastagem é a principal forma de uso da terra no Brasil. As áreas são enormes, mas até então, não sabíamos com precisão, onde estavam essas áreas de pastagem”.

Segundo o MapBiomas, os estados líderes em área de pastagem são Pará (21,5 milhões de hectares), Mato Grosso (21 milhões de hectares) e Minas Gerais (19,3 milhões de hectares).

Os resultados mais precisos só foram possíveis graças à utilização de imagens de satélites. “O resultado hoje é muito consistente, porém apenas mapeia onde estão as áreas de pastagem, uma cor amarela. Agora queremos colorir em três cores: uma que apontará o pasto bem manejado; pasto com solo exposto – em que você vai perdendo as áreas de pastagem ao longo dos anos – e com invasoras, que chamamos de pasto sujo”. Neste, ervas daninhas e cupins são indicativos de degradação.

Daí a necessidade do comprometimento de fazendeiros. O pasto bem manejado fica bem verde quando chove, enquanto que o degradado, não se recupera nem com as chuvas. Para manter a qualidade da pastagem é preciso realizar correção do solo a cada três anos.

Colaborador da pesquisa pela Embrapa, Eduardo Assad explica que o pasto degradado gera perda de produtividade, pois vai ter menos alimento disponível para gado. “Com correção e análise periódica do solo o produtor vai poder dobrar o número de cabeças na mesma área. Isso é o que chamamos de efeito ‘poupa-terra’. Eu não preciso desmatar para aumentar a produção da agropecuária. Nos pastos que já tenho hoje, eu dobro a produção da agropecuária. Temos um buffer de pelo menos 20 anos pela frente”.

Qualidade das pastagens

A análise das imagens de satélite entre 1985 e 2020 permitiu avaliar a qualidade das pastagens brasileiras e constatar uma queda nas áreas com sinais de degradação de 70% em 2000 para 53% em 2020. No caso das pastagens severamente degradadas houve uma redução ainda mais expressiva; representavam 29% das pastagens em 2000 (46,3 milhões de hectares) e agora representam 14% (22,1 milhões de hectares). Essa melhora foi identificada em todos os biomas, sendo que os que apresentaram maior retração nas áreas severamente degradadas foram Amazônia (60%), Cerrado (56,4%), Mata Atlântica (52%) e Pantanal (25,6%).

“A qualidade das pastagens tem importância estratégica para o produtor e para o país. Para o produtor, pela relação direta com a produtividade do rebanho, seja ele de corte ou de leite. Para o país, pela capacidade das pastagens bem manejadas de capturar carbono. Por outro lado, pastagens degradadas agravam a contribuição do setor agropecuário para as emissões dos gases que estão alterando o clima, com efeitos perversos sobre a própria atividade agropecuária”, explica Laerte.

Segundo material de divulgação do MapBiomas, de 1985 a 2020, pelo menos 252 milhões de hectares são ou já foram pastagem. “Foi possível detectar duas fases distintas no processo de conversão que transformou quase um terço do país  em pastagens nesse período. Ele foi mais intenso entre 1985 e 2006, quando se registrou um crescimento de 46,3% na extensão ocupada por pastagens, que passou de 111 milhões de hectares para 162,4 milhões de hectares. Em meados dos anos 2000, a área total de pastagem parou de crescer e até encolheu, registrando uma retração de 5% de 2005 a 2020.”

 

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