Ribeirinhos relatam que o acúmulo de sedimentos deixou água “com gosto de barro” (Observatório do Clima)

 

O MapBiomas divulgou nesta segunda-feira (24), uma nota técnica com base na análise de imagens de satélite em que aponta as possíveis causas do aumento de sedimentos no rio Tapajós, que fez sua cor mudar. Moradores de comunidades às suas margens, contam que até a água está “com gosto de barro”.

Na nota, o centro de pesquisa aponta que além da influência da dinâmica natural do sistema hidrológico da Bacia Amazônica, o aumento da turbidez (queda da transparência) no médio e alto Tapajós pode ser atribuído ao garimpo e outras alterações de uso da terra que causam desmatamento e expõem o solo.

“É evidente que mudanças na coloração das águas do Tapajós e de sua foz, estão se tornando cada vez mais frequentes, mais intensas e coincidem com expressivo avanço da atividade garimpeira na região”, diz trecho do relatório.

A nota destaca que a atividade garimpeira se concentra na margem direita do rio Tapajós, e compõe uma das principais fontes de sedimentos para esse rio. Porém, outros tipos de uso da terra também contribuem, em conjunto, como descarte de esgoto de cidades médias (como Jacareacanga e Itaituba) e do desmatamento associado à atividades agropecuárias na região e atividades do Porto de Miritituba.

Assim, a atividade de garimpo, em conjunto com outros tipos de usos da terra, historicamente contribuem para mudanças no regime hidrossedimentar do médio curso do rio Tapajós. Apenas nos municípios de Jacareacanga, Trairão, Itaituba, Aveiro e Rurópolis que abrangem o médio e alto Tapajós a área de floresta convertida para outros usos chegou a 784 mil hectares desmatados entre 1985 e 2020, uma área equivalente a 1,5x do Distrito Federal.

Mais pesquisas

Para consolidar o resultado das imagens de satélite, quantificando e caracterizando os sedimentos, o MapBiomas considera importante como complemento, a realização de análises de campos e laboratoriais.

Nesse sentido, o Ministério Público Federal já requisitou ao Ibama e à Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará que informem sobre as medidas tomadas para conter danos ao rio. De outro lado, a Polícia Federal e o Instituto Chico Mendes começaram a investigar a mudança na cor das águas.

Segundo a Polícia Federal, garimpos ilegais que ficam a cerca de 300 km de Alter do Chão, de onde soou o alerta, despejam 7 milhões de toneladas de rejeitos no Tapajós por ano. Por sua vez, o MapBiomas indica no relatório que a Bacia do Tapajós é uma das regiões onde o crescimento da atividade garimpeira foi mais expressivo no Brasil: triplicou nos últimos 10 anos, crescendo uma área do tamanho da cidade de Porto Alegre.

Acesse a nota técnica na íntegra aqui.