Ironicamente, Hamilton Mourão considerou resultados da Samaúma  “bem animadores” (Agência Brasil)

 

Como é que o vice-presidente e coordenador do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão explica essa? Um levantamento do Fakebook.eco, com base em dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta que em julho a redução do desmatamento na Amazônia foi maior em cidades em que as Forças Armadas não atuam.

Já a área sob alerta de desmatamento em julho nos 26 municípios de quatro estados da Amazônia – Amazônia, Rondônia, Pará e Mato Grosso – nos quais as Forças Armadas realizam a Operação de Garantia da Lei da Ordem (GLO) ficou praticamente igual ao patamar do mesmo mês em 2020. A queda foi de 2,6% nesses locais, enquanto nas cidades fora da lista oficial de regiões prioritárias a redução foi quase sete vezes maior, de 17,3%. No caso da degradação (remoção parcial da floresta) houve aumento de 214% em julho nos municípios em que o Exército opera na comparação com o mesmo mês de 2020. Já naqueles sem ação militar a área de alertas de degradação caiu 55%.

Mourão anunciou que a operação Verde Brasil, em sua segunda edição, foi estendida até 31 de agosto, envolvendo 3 mil militares e ao custo de R$ 50 milhões. No dia 9 de agosto, ao comentar os resultados da Samaúma – como foi batizada a nova incursão de militares na região -, considerou que era “bem animadores”.

O fracasso se repete na nova edição, já que em 2020 o desmatamento atingiu a maior taxa em 12 anos.

Como subsídio às ações, o governo Bolsonaro já empenhou mais de meio bilhão: R$ 530 milhões ao todo. Mas não dá para saber ao certo, pois a GLO é considerada uma caixa preta. Na prática, a decisão orçamentária de investir nos militares e não diretamente na fiscalização ambiental, acabou por aumentar os crimes ambientais e reduzir multas. Ao ouvir servidores do ICMBio e Ibama, a reportagem aponta sucateamento dos órgãos, isolamento de especialistas e até mesmo desvio do recurso para reforma de quartéis. Números de operações também estariam sendo maquiados.

A análise do Fakebook.Eco confirma a tendência de queda das multas em julho. As multas do Ibama por crimes contra a flora caíram 29,4% em relação ao mesmo mês do ano passado nessas cidades. Mesmo com o “reforço” de cerca de 3.000 militares, o Ibama aplicou apenas 60 autos de infração. É um quinto do total de autos aplicados nessas cidades no mesmo mês de 2016, início da série do sistema Deter-B, do Inpe, embora a área de alertas de desmatamento tenha quase dobrado nesse período.